Os japoneses, ainda em choque, votaram no domingo para renovar metade da câmara alta do parlamento, a favor do Partido Liberal Democrático (PLD, direita nacionalista), do primeiro-ministro, Fumio Kishida, que considerou "importante que as eleições tenham decorrido normalmente", apesar do contexto dramático.
A coligação formada pelo PLD e pelo seu aliado Komeito obteve uma grande vitória eleitoral, conquistando 76 dos 125 assentos em jogo contra 69 antes da votação e passando a controlar 146 dos 248 lugares no Senado, segundo os resultados finais.
Com outros dois partidos com os quais são possíveis alianças em certos temas, o PLD e o Komeito contam até com uma "supermaioria" de dois terços no Senado, o que potencialmente lhes permitirá abrir caminho para a revisão da Constituição pacifista do Japão, com a qual sonhava Shinzo Abe, ex-líder do LDP.
Kishida afirmou hoje que esta vitória eleitoral tornou possível "proteger o Japão" e continuar a luta de Abe, adiantando que quer "aprofundar o debate parlamentar sobre a Constituição de forma a poder desenvolver uma proposta concreta de alteração" com vista a um referendo.
O chefe do governo nipónico também prometeu continuar a sua ação em assuntos importantes para o Japão, como a pandemia de covid-19, a invasão russa da Ucrânia e a inflação.
A principal força da oposição, o Partido Democrático Constitucional (PDC, de centro-esquerda) garantiu apenas 17 assentos (menos seis do que os que tinha antes da eleição).
Por outro lado, 35 mulheres foram eleitas no domingo, um recorde nas eleições para a câmara alta japonesa. A participação foi de 52%, contra 49% nas eleições senatoriais anteriores em 2019.
A campanha eleitoral foi dominada em particular pelo aumento dos preços devido à subida dos custos do petróleo e outras matérias-primas e pelos riscos de falta de fornecimento de eletricidade, já que a onda de calor que afeta o país desde o final de junho levanta receios de interrupções na rede.
Esta eleição foi ofuscada pelo ataque de sexta-feira a Abe, durante um comício eleitoral em Nara, que deixou o poder em 2020, após estabelecer um recorde de longevidade como chefe do Governo do Japão.
O funeral deverá ocorrer na terça-feira, no templo budista Zojoji, com a presença apenas de parentes de Abe, sendo depois seguido de uma homenagem pública em data posterior.
O alegado assassino, preso no local do ataque, foi identificado pela polícia como Tetsuya Yamagami, 41 anos, que se acredita ser um ex-membro da Força de Autodefesa Marítima, a Marinha do Japão.
Segundo fontes policiais citadas pela imprensa local, o homem viu vídeos no YouTube que mostravam como fazer uma arma de fogo artesanal como a que usou no ataque.
Yamagami disse que atacou deliberadamente Abe, explicando que estava zangado com uma organização -- a Igreja da Unificação -, à qual achava que o político pertencia.
A imprensa japonesa afirmou que se tratava de uma organização religiosa para a qual a mãe de Yamagami teria feito grandes doações, que deixaram a sua família em grande dificuldade financeira.
Também conhecida como 'seita Moon', a organização sul-coreana confirmou, em conferência de imprensa realizada hoje em Tóquio, que a mãe do suspeito é uma das suas seguidoras.
A filial japonesa desta seita não avançou pormenores sobre as doações da mãe do suspeito, garantindo, no entanto, que quer "cooperar" com a investigação policial, e que está horrorizada com o assassinato de Abe, sublinhando que ele nunca foi um dos seus membros ou conselheiros.
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