"A vida de milhares - mais de milhares, dezenas de milhares de pessoas - depende deste acordo e, portanto, não é um jogo diplomático, é uma questão de vida ou morte para muitos seres humanos. E a questão é que a Rússia tem de desbloquear e permitir que os cereais ucranianos sejam exportados", vincou Josep Borrell.
Falando à chegada da reunião dos ministros dos Negócios Estrangeiros da UE, em Bruxelas, o chefe da diplomacia europeia admitiu ter "esperança que esta semana seja possível chegar a um acordo para desbloquear Odessa e outros portos ucranianos", quando Kiev e Moscovo se sentam à mesa, na Turquia, para discutir esta questão.
"A Rússia continua a bloquear o trigo ucraniano - estão a queimá-lo, estão a destruí-lo - e continuam a realizar uma guerra de desgaste, bombardeando indiscriminadamente qualquer tipo de infraestrutura civil, matando pessoas inocentes e isto é algo que é uma tragédia", lamentou Josep Borrell.
No Conselho de hoje, os chefes da diplomacia europeia vão então discutir como "continuar a apoiar a Ucrânia", estando em cima da mesa mais apoio militar à Ucrânia, esperando o Alto Representante da UE que os ministros cheguem "a um acordo político sobre isso".
A posição surge numa altura de confronto armado na Ucrânia devido à invasão russa e de bloqueio das exportações nos portos ucranianos, tensões geopolíticas que estão a afetar cadeias de abastecimento, causando receios de rutura de 'stocks' e de crise alimentar.
Tanto a Ucrânia como a Rússia são importantes fornecedores dos mercados mundiais, especialmente de cereais e óleos vegetais, como trigo, cevada e milho, sendo que Kiev é também responsável por mais de 50% do comércio mundial de óleo de girassol e um importante fornecedor de ração para a UE.
Estima-se que milhões de toneladas de trigo estejam retidas na Ucrânia, sendo que a exportação habitual ucraniana neste setor era de cinco milhões de toneladas de trigo por mês.
Na reunião de hoje, participa por videoconferência o ministro dos Negócios Estrangeiros, da Ucrânia, Dmytro Kuleba, que vai explicar a situação no terreno.
Na ocasião, será também discutida a atualização das sanções europeias à Rússia, proposta por Bruxelas na sexta-feira, que também inclui a proibição das importações do ouro russo,
Falando à imprensa, Josep Borrell explicou que o objetivo desta atualização é "melhorar a implementação das sanções já existentes [...] para ter a certeza de que as sanções são eficazes", rejeitando que estas medidas restritivas sejam "um erro".
"Foi o que tivemos de fazer e vamos continuar a fazer", adiantou.
Na passada sexta-feira, a Comissão Europeia propôs uma proibição, na UE, às importações de ouro russo e um reforço dos controlos às exportações de tecnologia avançada, medidas que visam um "alinhamento das sanções" europeias com as internacionais.
De acordo com Josep Borrell, os chefes de diplomacia dos 27 vão também discutir a ampliação da lista de indivíduos e entidades alvo de sanções pela agressão da Rússia à Ucrânia.
Desde fevereiro passado, mês em que Moscovo lançou a invasão da Ucrânia, a UE já adotou seis pacotes de sanções, sendo que os dois últimos abrangeram o setor energético -- um embargo ao carvão russo, no quinto, e uma proibição parcial às importações de petróleo russo, no sexto.
Já a lista de sanções da UE dirigida à Rússia, aberta na sequência da anexação da Crimeia em 2014, tem aumentado consideravelmente nos últimos meses, e conta atualmente com 1.090 pessoas, incluindo o Presidente
Leia Também: Grupo de vestuário H&M decide sair da Rússia