"Ninguém estará em segurança" com Putin, diz biógrafo John Sweeney
O jornalista britânico John Sweeney, autor de um livro biográfico sobre Vladimir Putin, acredita que "ninguém estará em segurança" enquanto o presidente russo continuar no poder, e avisa que a guerra na Ucrânia é uma lição de democracia.
© Lusa
Mundo Ucrânia/Rússia
"Penso que o que os ucranianos nos estão a ensinar é que a democracia deve ser defendida, a liberdade de expressão não é oferecida. E penso que devemos prestar atenção ao que está a acontecer na Ucrânia", afirmou Sweeney à Agência Lusa, a propósito do lançamento do livro "Killer in the Kremlin" ["Assassino no Kremlin"].
"Durante demasiado tempo vivemos demasiado confortavelmente e tornámos-nos ligeiramente 'zombificados'. Mas a Rússia é uma ameaça. Enquanto Putin estiver no poder, ninguém estará em segurança. Temos de fazer-lhe frente", afirma Sweeney, que estava em Kiev quando a Rússia lançou a ofensiva militar sobre a Ucrânia, em 24 de fevereiro.
O livro, que se anuncia como um "relato explosivo do reinado de terror de Putin", é o resultado de 22 anos a seguir o ex-espião e agora presidente, desde a guerra na Chechénia nos anos 2000, quando diz ter visto "provas de crimes de guerra do exército russo".
Em 2014, deslocou-se à Sibéria e interpelou o presidente russo para a BBC, perguntando-lhe sobre "as mortes na Ucrânia", uma referência ao derrube do avião MH17, que provocou a morte de 298 pessoas.
O avião da Malaysia Airlines que seguia de Amesterdão para Kuala Lumpur despenhou-se após ter sido atingido por um míssil quando sobrevoava o leste da Ucrânia durante o conflito que culminou com a anexação da Crimeia.
"Não há dúvida de que o MH17 foi rebentado no céu pelo exército russo", apesar dos desmentidos de Moscovo, garante Sweeney, que investigou o acidente para a estação pública britânica.
Putin respondeu, responsabilizando Kiev por não querer um "diálogo político substancial com o leste do país". Meses mais tarde, a Rússia apoiou as repúblicas separatistas ucranianas de Donetsk e Lugansk e anexou a península da Crimeia.
Em 2018, Sweeney voltou ao tema, investigando as relações com Putin dos oligarcas russos que frequentavam o Reino Unido e as ligações com o Kremlin do empresário Arron Banks, um dos aliados e financiadores de Nigel Farage durante o referendo para o Brexit.
Mais recentemente, escreveu sobre a proximidade entre o primeiro-ministro Boris Johnson e o antigo espião russo Alexander Lebedev, cujo filho, Evgeny, proprietário dos jornais Evening Standard e Independent, entrou na Câmara dos Lordes com o título Barão Lebedev, de Hampton, no bairro de Richmond, em Londres, sobre o Tamisa, e da Sibéria, na Federação Russa".
O livro inclui informação usada para todos estes trabalhos e também para o 'podcast' "Talking on Putin" ["Falando sobre Putin"], que Sweeney lançou em fevereiro com financiamento coletivo [crowdfunding] a partir de Kiev.
Desde que deixou a BBC, em 2019, Sweeney, de 64 anos continuou como jornalista independente, além de autor de vários livros, o que lhe deu também mais liberdade.
O novo livro aborda o percurso de Putin através de pessoas que o conheceram, especialistas e também de opositores, e inclui várias teorias por provar, desde a doença que alegadamente afeta Vladimir Putin a rumores de pedofilia e bissexualidade.
Sobre a muito falada deformação facial do presidente russo, sugere que possa ser resultado de um excesso de esteróides, tal como aconteceu com John F. Kennedy por causa dos tratamentos à doença de Addison, que terão como efeito secundário um aumento de agressividade.
Mas isto não quer dizer que Putin tenha enlouquecido, vinca, lembrando a conversa com um psiquiatra.
"Ele é mau, mas não louco. Ele não tem vozes na cabeça, não tem alucinações", argumenta, acrescentando que isto "são boas notícias porque quer dizer que não nos vai atacar com bombas nucleares".
Antes de invadir a Ucrânia, Putin já tinha lançado ataques à ordem internacional e às democracias ocidentais, mantendo-se a suspeita no livro sobre a influência sobre o 'Brexit', apesar de várias investigações oficiais britânicas não terem encontrado indícios.
"Nenhuma dessas investigações foi de boa qualidade. Aqueles que podem realmente saber são [os serviços de inteligência britânicos] MI6 e não lhes foi pedido que investigassem", afirmou à Lusa, alegando que o Partido Conservador, no poder, não está interessado.
Sobre o primeiro-ministro, Boris Johnson, reconhece o mérito no confronto da Rússia e de Putin "a partir de 24 de fevereiro", mas deixa críticas sobre as relações anteriores com oligarcas, nomeadamente frequentando festas na mansão dos Lebedev em Itália.
"A relação com os Lebedev é imprópria. Alexander Lebedev foi do KGB e [o KGB] é como o Hotel California", diz, numa referência à música dos Eagles, que cantavam que "nunca se pode sair".
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