Num encontro com o líder da Igreja Católica e com o secretário de Estado, o cardeal Pietro Parolin, em Quebeque, Trudeau agradeceu ao Papa por se "ter envolvido com os povos indígenas nas suas terras ancestrais" e por "reconhecer as verdades sobre o sistema de escolas residenciais e o seu doloroso legado".
Entre o final do século XIX e os anos 1990, cerca de 150.000 crianças indígenas foram recrutadas à força para mais de 130 destas instituições. Aí foram isolados das famílias, da língua e cultura, e foram frequentemente vítimas de violência. Pelo menos 6.000 crianças morreram nestas instituições.
A descoberta em 2021 de mais de 1.300 sepulturas não identificadas perto destas escolas provocou uma onda de choque no país, que está lentamente a abrir os olhos para este passado, descrito como "genocídio cultural" por uma comissão nacional de inquérito.
Num comunicado citado pela agência noticiosa Efe, os dois líderes discutiram, no seu encontro, "a importância de a Igreja Católica Romana continuar a empenhar-se de forma significativa com as Primeiras Nações, os inuíte e os Metis para promover a cura e a reconciliação".
De igual forma, terão falado da necessidade de a Igreja "tomar medidas concretas para repatriar artefactos indígenas [alguns deles conservados no Museu do Vaticano], facilitar o acesso a documentos escolares residenciais, abordar a 'Doutrina do Descobrimento' e garantir justiça para os sobreviventes", refere a nota.
Trudeau e Francisco debateram também o chamado 'caso Rivoire', sobre o padre Johannes Rivoire, que é objeto de um mandado de captura emitido pelo Canadá por alegadas agressões sexuais ocorridas há cerca de 47 anos contra crianças inuítes no território de Nunavut, que será visitado pelo papa esta sexta-feira.
Rivoire, que vive atualmente em França nunca foi julgado por essas acusações no Canadá porque regressou a França no início da década de 1990.
A missa que o papa conduziu hoje na igreja de Santa Ana, em Quebeque, foi palco de um protesto em que um grupo de indígenas desfraldou uma faixa em que pedia que se afastasse da chamada 'Doutrina do Descobrimento'.
Apesar de muitos dos representantes destes povos terem expressado a sua satisfação e emoção com o reconhecimento e perdão pedido pelo papa, alguns concordaram que o pedido de perdão era um ponto de partida e não de chegada no processo de reconciliação com a Igreja e que há ainda muito a fazer quanto às exigências dos nativos.
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