Dois dias depois de 22,1 milhões de quenianos terem sido chamados às urnas, a contagem e verificação dos votos continuava hoje, esperando-se que os resultados oficiais sejam revelados, o mais tardar, no dia 16.
Os meios de comunicação social quenianos têm vindo a transmitir contagens provisórias, que anunciam um duelo "taco-a-taco" entre os dois favoritos, o vice-presidente em exercício, William Ruto, e Raila Odinga, uma figura histórica da oposição, que recebeu o apoio do Presidente cessante, Uhuru Kenyatta.
As redes sociais têm entretanto sido inundadas de desinformação, que os observadores internacionais enviados às eleições temem poder vir a ser uma fonte de tensões perigosas num país que assistiu a vários episódios de violência pós-eleitoral nas últimas duas décadas.
"A discrepância entre o anúncio de resultados oficiais pela comissão eleitoral [IEBC, na sigla em inglês] e os resultados provisórios, e por vezes contraditórios, anunciados pelos meios de comunicação social é uma fonte de preocupação", afirmou o chefe da missão de observadores da Commonwealth, Bruce Golding, natural da Jamaica, em declarações aos jornalistas.
"A desinformação e o incitamento ao ódio, particularmente via 'online'" são "apelos à violência por parte dos políticos e seus apoiantes", acrescentou.
Os observadores do Instituto Nacional Democrático (NDI), sediado nos Estados Unidos, também expressaram preocupação, considerando "importante que haja informação exata e precisa e que todos os cidadãos tenham acesso a ela", nos termos de um dos seus membros, Donna Brazile, igualmente em declarações à imprensa.
"O que está em causa é confiança dos cidadãos no sistema e na sua capacidade de funcionar corretamente. Não se trata de continuar a campanha", disse.
A Amnistia Internacional e várias organizações não-governamentais (ONG) quenianas já haviam alertado na quarta-feira para os "níveis crescentes de informação falsa ou enganosa" nas redes sociais.
Segundo as ONG, os candidatos e apoiantes de ambos os lados "procuraram intencionalmente informar mal o eleitorado e o público" sobre o processo eleitoral e os resultados.
Todas as eleições no Quénia desde 2002 têm sido contestadas, resultando por duas vezes em surto de forte violência, sendo a pior a ocorrida em 2007-2008.
A contestação dos resultados por Raila Odinga levou na altura a confrontos entre etnias, cujo balanço ascendeu a mais de 1.100 mortos e centenas de milhares de deslocados, no maior surto de violência pós-eleitoral desde a independência do país em 1963.
O IEBC enfrenta este ano fortes pressões, muito por efeito da anulação das eleições anteriores pelo Supremo Tribunal queniano. O primeiro incidente do género em África resultou na repetição das eleições gerais em 2017, ficando o período entre os dois atos eleitorais marcado por dezenas de mortes, resultantes da repressão policial.
Este ano, a generalidade dos observadores, tanto locais como estrangeiros, consideraram que a votação na passada terça-feira decorreu geralmente sem problemas e de forma pacífica.
Os quenianos votaram para escolher o seu Presidente para os próximos cinco anos, mas também os governadores, deputados e senadores às duas câmaras do parlamento e mais de 1.500 funcionários eleitos locais.
O IEBC ainda não divulgou os números finais da afluência às urnas, mas na quarta-feira revelou que foi ligeiramente superior a 65%, número que contrasta com 78% nas eleições de agosto de 2017.
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