O Governo da Estónia revelou, esta terça-feira, ter decidido remover um monumento comemorativo da era soviética em Narva, na fronteira com a Rússia, justificando tratar-se de um risco para segurança da sociedade, perante a tensão sentida na região.
“Ninguém quer ver o nosso vizinho militante e hostil a fomentar tensões na nossa casa. De acordo com a nossa constituição, a paz interna é o valor central do Estado, e a defesa da paz interna e externa é uma das principais tarefas do Estado. Não daremos à Rússia a oportunidade de usar o passado para perturbar a paz na Estónia", começou por apontar a primeira-ministra daquele país, Kaja Kallas, em comunicado.
A responsável adiantou que a decisão teve também por base o escalar das tensões e das manifestações junto dos monumentos, procurando evitar a mobilização de “mais hostilidade na sociedade” e a abertura de “feridas antigas”.
My government has decided to remove Soviet monuments from public spaces across #Estonia. As symbols of repressions and Soviet occupation they have become a source of increasing social tensions – at these times, we must keep the risk to public order at a minimum.
— Kaja Kallas (@kajakallas) August 16, 2022
Naquela que é a terceira maior cidade da Estónia, com um número elevado de falantes russos, uma réplica de um tanque T-34 com uma estrela soviética vermelha ‘descansa’ no topo de um monumento que celebra os soldados soviéticos que morreram durante a libertação da Estónia das mãos da Alemanha nazi, na Segunda Guerra Mundial. A réplica será levada para o Museu da Guerra da Estónia, em Viimsi, mas o local “continuará a ser um sítio digno para relembrar os mortos”, assegurou a chefe do Governo.
Segundo o ministro do Interior, Lauri Laanemets, a operação, que teve início esta terça-feira, será levada a cabo “de uma forma digna”, esclarecendo que “as flores e as velas deixadas nos monumentos serão levadas para um cemitério”, cita a Associated Press.
Na segunda-feira, a administração local de Narva decidiu que o monumento deveria de ser retirado, levando a que uma multidão se juntasse junto ao mesmo, em protesto.
Ainda assim, todos os monumentos alusivos à era soviética deverão ser retirados dos espaços públicos até ao final do ano, segundo a nota do governo da Estónia. Os prazos dependerão, contudo, “da prontidão e dos planos logísticos dos governos locais”, sendo que os túmulos de guerra serão reenterrados em cooperação com as administrações de cada região.
Recorde-se que a transferência do Soldado de Bronze de Tallinn, outro monumento de guerra soviético, provocou dias de tumultos, em 2007. Uma pessoa morreu e mais de mil foram detidas, tendo os cidadãos de língua russa alegado que a remoção do memorial apagou a sua história. A estátua foi, posteriormente, transferida para um cemitério militar.
Leia Também: Putin diz que tropas russas libertam "passo a passo" o Donbass