Coligação faz balanço "catastrófico" de 2 anos de junta militar no poder

Uma coligação de partidos do Mali considerou hoje "catastrófica" a atuação da junta militar após dois anos no poder, levantando uma rara voz dissidente.

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Lusa
20/08/2022 22:16 ‧ 20/08/2022 por Lusa

Mundo

Mali

Em 18 de agosto de 2020, um grupo de coronéis, incluindo o que viria a tornar-se líder da junta, Assimi Goïta, derrubou o Presidente Ibrahim Boubacar Keïta após meses de protestos sobre o fracasso em travar a expansão e violência dos fundamentalistas islâmicos, a estagnação económica e a corrupção. Um segundo golpe de Estado, em maio de 2021, reforçou o seu domínio.

As expressões dissonantes tornaram-se a exceção, abafadas pelos apelos à unidade nacional e medidas repressivas.

Uma coligação, no entanto, mostra-se alarmada com a situação.

"O balanço é catastrófico e a situação é preocupante", disse a coligação, conhecida como Quadro de Mudança ('Cadre d'échange'), numa declaração enviada hoje à agência France-Presse (AFP).

A coligação reúne uma dúzia de partidos e grupos de partidos, incluindo o União pelo Mali, do ex-presidente Keita e o Yelema, do ex-primeiro-ministro Moussa Mara.

Para a coligação, "a situação está a deteriorar-se em quase todas as áreas e existem sérias ameaças à unidade e soberania nacionais".

Quase todo o território está sob o controlo de fundamentalistas islâmicos, que estão "visivelmente a ganhar poder", "o cesto doméstico nunca esteve tão vazio", "as liberdades fundamentais são regularmente violadas", referiu.

Além disso, o Mali "está a afundar-se num isolamento diplomático sem precedentes", alerta.

O segundo aniversário de 18 de agosto de 2020 não foi marcado por nenhum evento oficial. Foi após o golpe de 2021, a investidura do coronel Goïta como Presidente e a nomeação de um novo primeiro-ministro, que foi iniciada uma política de rutura.

A junta voltou-se para a Rússia e afastou-se da França e os seus aliados. O último soldado da operação francesa anti-jihadista Barkhane deixou o Mali na segunda-feira, ao fim de nove anos a combater o terrorismo naquele país.

As autoridades orgulham-se de terem resistido à pressão internacional e restaurado a soberania do país e forçaram os jihadistas à defensiva.

O Estado-maior das Forças Armadas afirmou hoje ter "neutralizado" 81 combatentes desde o início de agosto, durante várias operações, e relatou alguns feridos nas fileiras do exército.

Além disso, deu conta dos primeiros ataques aéreos por um Sukhoi-25, entregue em agosto pelo parceiro russo.

Todos estes dados são praticamente impossíveis de confirmar.

Na sexta-feira, apoiantes do imã Mahmoud Dicko, uma figura pública influente que tinha sido uma figura de proa nos protestos de 2020, disseram que "a situação política e de segurança no país [permaneceu] preocupante apesar de alguns progressos em certas áreas".

"O país está a atolar-se num modo de governação caracterizado pela promoção da propaganda, desvio, amordaçamento da liberdade de expressão, crises diplomáticas com os nossos parceiros, a distinção [entre] bons e maus malianos", afirmaram, numa declaração.

Leia Também: Mali pede reunião urgente na ONU por "atos de agressão" de Paris

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