Residência para afegãos "é mínimo que EUA podem fazer", alega ONG

A atribuição de residência permanente a dezenas de milhares de afegãos retirados pelas forças norte-americanas do Afeganistão "é o mínimo que os Estados Unidos (EUA)" podem fazer por essas pessoas, afirma a 'United Afghan Association'.

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Lusa
27/08/2022 08:14 ‧ 27/08/2022 por Lusa

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Afeganistão

Um ano após a conclusão da retirada norte-americana do Afeganistão (30 de agosto de 2021), legisladores democratas e republicanos estão a promover um projeto-lei para conceder residência permanente às dezenas de milhares de afegãos então retirados pelas forças norte-americanas.

Em entrevista à Lusa, Freshta Kohgadai, vice-presidente da 'United Afghan Association', organização que defende os interesses das comunidades afegãs no Afeganistão e da diáspora, afirmou que esses cidadãos retirados correm agora o risco de deportação, uma vez que estão a ficar sem tempo e não conseguem encontrar assistência legal.

Desde que os Estados Unidos concluíram a retirada das suas tropas do Afeganistão, mais de 70.000 afegãos foram admitidos no país com uma autorização humanitária, que não lhes dá direito a residência permanente e que expira num período máximo de dois anos.

Até ao momento, há dezenas de milhares de casos pendentes de solicitação de visto especial e de asilo para afegãos e o projeto-lei permitirá que alguns desses afegãos reivindiquem residência permanente nos EUA, evitando assim que percam os seus empregos ou sejam deportados até à regularização por outros meios.

O denominado 'Afghan Adjustment Act', segundo várias organizações não-governamentais (ONG) e veteranos norte-americanos que estiveram destacados no Afeganistão, é uma questão "moral" para cumprir a promessa de ajuda feita por Washington àquela população que colaborou com o país e que está especialmente vulnerável.

Esta regulamentação foi apresentada na semana passada por senadores de ambos os partidos e, sendo uma iniciativa bipartidária, espera-se que seja aprovado pelo Congresso sem maiores entraves, este outono ou em janeiro do próximo ano.

"Este é definitivamente o mínimo que os EUA podem fazer. Essas pessoas agora correm o risco de deportação (...). O Afeganistão como um todo tem lutado ao lado dos EUA nos últimos 20 anos. Esperamos que esse projeto seja aprovado e que mais seja feito para salvar também as pessoas que ficaram no Afeganistão", disse Freshta Kohgadai, nascida em Cabul.

Questionada pela Lusa sobre as principais dificuldades que os afegãos recém-chegados aos EUA têm enfrentado, Kohgadai aponta a assistência jurídica e obtenção de emprego.

"Todos os escritórios de advocacia que podem ajudar estão sobrecarregados e não estão a aceitar mais clientes. Todos têm que colocar o seu nome numa lista de espera e aguardar", explicou Freshta Kohgadai, que é também cientista política.

Em relação à questão do emprego, a ativista afegã detalha que esse tem sido um processo difícil porque os EUA não reconhecem o ensino superior do Afeganistão e, portanto, a educação e a experiência de trabalho anteriores não são transferidas.

"A maioria das pessoas tem que começar novamente em empregos de nível básico", disse, acrescentando que muitos destes cidadãos foram forçados a destruir a sua documentação pessoal ao deixar o Afeganistão.

Com as novas autoridades em Cabul, os extremistas islâmicos talibãs, alguns ex-colaboradores de missões ocidentais em Cabul têm vindo a ser acusados de diversos crimes.

Mais do que um simples projeto de lei, trata-se de uma corrida contra o tempo - que pode levar à morte: "Se este projeto de lei não for aprovado, milhares de pessoas ficarão sem tempo e correm o risco de serem deportados. Se forem deportados, serão instantaneamente mortos ou detidos assim que desembarcarem no Afeganistão, sem qualquer dúvida", sustentou.

Esta não seria a primeira vez que o Governo dos EUA aprovaria uma legislação semelhante após o envolvimento norte-americano noutros conflitos ou crises humanitárias. Fê-lo, por exemplo, em 1966 com cidadãos cubanos depois de Fidel Castro chegar ao poder ou em 2008 com iraquianos.

Leia Também: ONG: "Mundo virou as costas" aos afegãos e entregou país a "terroristas"

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