As autoridades ucranianas alegaram esta quarta-feira ter encontrado uma "câmara de tortura" na cidade de Balakliia, na região de Kharkiv, que foi libertada no decorrer da contraofensiva em torno da segunda maior cidade do país.
Numa publicação no Twitter, o Ministério da Defesa ucraniano divulgou uma fotografia da câmara, na qual terá sido inscrita uma oração nas paredes por prisioneiros ucranianos.
"A Rússia tem de ser responsabilizada por este genocídio escandaloso", afirmou o governo de Kyiv.
russian torture chamber in liberated Balakliya.
— Defense of Ukraine (@DefenceU) September 14, 2022
The Lord's Prayer was carved on the wall by Ukrainian prisoners.
russia must be held accountable for this blatant genocide. pic.twitter.com/ObQJGjfEQw
A vila de Balakliia (ou Balaklyia) fica a cerca de 50 quilómetros a noroeste de Izium, outra cidade libertada pela repentina contraofensiva no nordeste do país. Nessa movimentação militar, a defesa do país conseguiu recuperar cerca de 8 mil quilómetros quadrados de território conquistado pelos russos, e o presidente ucraniano prometeu que o esforço de recuperação continuaria - isto antes de, esta quarta-feira, ter feito uma visita surpresa a Izium.
No entanto, o cenário encontrado pelos soldados ucranianos poderá não ser o mais agradável. À semelhança do que aconteceu em maio, quando foram encontrados sinais de crimes de guerra em vilas nas imediações de Kyiv, nomeadamente em Bucha, também em torno de Kharkiv têm sido encontrados corpos de civis e valas comuns nas cidades recuperadas.
Alguns dos corpos, afirmam as autoridades ucranianas, apresentam sinais de tortura.
Em Balakliia, ainda não tinham sido descritos alegados crimes de guerra até à publicação do governo. Ao The Guardian, residentes da vila contam que o contacto com forças russas foi mínimo: apesar do acesso limitado a telecomunicações e o medo de serem bombardeados ou saqueados pelos invasores, os habitantes admitiram que os russos mantiveram-se no perímetro do local e não assistiram a execuções ou a tortura.
Mas o diretor do departamento de investigação da polícia regional de Kharkiv, Serhiy Bolvinov, conta que cerca de 40 pessoas foram detidas e possivelmente torturadas em Balakliia. A BBC conseguiu falar com um habitante, que contou que esteve preso durante mais de 40 dias numa esquadra, tendo sido torturado com choques elétricos.
O homem contou que os russos tentaram que este confessasse ligações ao estado ucraniano, depois de terem encontrado uma foto do irmão, que é soldado no exército. O mesmo indivíduo acrescentou que ouviu gritos de dor e barulhos de geradores elétricos a partir de outras salas.
Outro homem contou que foi detido e torturado durante 25 dias por ter consigo uma bandeira ucraniana.
A guerra na Ucrânia já fez mais de 5.800 mortos entre a população civil ucraniana, segundo contam os dados do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos. No entanto, a organização adverte que o real número de mortos civis poderá ser muito superior, dadas as dificuldades em contabilizar mortos em zonas ocupadas ou sitiadas pelos russos - em Mariupol, por exemplo, estima-se que tenham morrido milhares de pessoas.
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