O procurador-geral ucraniano denunciou esta segunda-feira que mais de 7.000 crianças ucranianas foram deportadas para territórios ocupados pela Rússia, para a Rússia em si e para o seu maior aliado, a Bielorrússia.
Numa entrevista à agência de notícias Livyi Bereh, citada pelo jornal ucraniano Pravda, Andrii Kostin condenou as ações dos russos e disse que, para já, foram identificadas 5.327 crianças das mais de sete mil deportadas.
Em contrapartida, a Ucrânia conseguiu recuperar apenas 55 crianças arrastadas pelas forças russas e 37 dessas crianças foram encaminhadas para países da União Europeia, onde os pais ou guardiões estão refugiados.
Fazendo comparações sobre a forma como os parceiros internacionais desbloquearam as exportações de cereais para o resto do mundo, Kostin apelou a uma maior pressão por parte das instituições internacionais para a situação que considera ser de sequestro de crianças ucranianas.
"Vivemos num mundo de cinismo, infelizmente. Mas temos de trabalhar apesar disso, e pedir tudo o que for possível para resolver a situação", disse o procurador-geral.
No âmbito do mesmo, o procurador já tinha contado numa entrevista ao programa 'Face The Nation', da CBS News, que a deportação forçada de crianças é "um elemento de potencial genocídio".
Andriy Kostin, the prosecutor general of Ukraine, tells @margbrennan that his office has “evidence” that “thousands and thousands” of Ukrainian children, were kidnapped and forcibly sent to Russia, which he believes is “an element of potential genocide.” pic.twitter.com/Qhl5Viu9Dv
— Face The Nation (@FaceTheNation) September 18, 2022
Ainda sobre as ações russas sobre os mais jovens, Andrii Kostin contou que foram identificadas cinco crianças como vítimas de agressões sexuais por soldados russos durante a invasão no país.
Segundo Andrii Kostin, foram identificadas "cinco crianças entre os 4 e os 16 anos de idade como vítimas desta categoria de crime de guerra", mas o procurador admite que "há muitos casos semelhantes". "Isto é um trabalho difícil. Estamos a trabalhar com as crianças, usando um sistema chamado 'sala verde', com o envolvimento direto de um psicólogo, que ajuda a criança mas fica fora do seu campo de visão", explicou.
O procurador acrescentou ainda que "em certos casos, há testemunhos que podem ser usados como provas para estes procedimentos criminais" sobre potenciais crimes de guerra.
A Ucrânia e várias outras entidades internacionais têm acusado a Rússia de cometer crimes de guerra, especialmente tortura e homicídio de civis, cujos corpos foram encontrados em valas comuns - mais recentemente em Izium, onde o cenário de centenas de campas comuns encontrado em Bucha foi repetido.
A guerra na Ucrânia já fez mais de 5.900 mortos entre a população civil ucraniana, segundo contam os dados do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos - incluindo mais de 300 crianças. No entanto, a organização adverte que o real número de mortos civis poderá ser muito superior, dadas as dificuldades em contabilizar mortos em zonas ocupadas ou sitiadas pelos russos - em Mariupol, por exemplo, estima-se que tenham morrido milhares de pessoas.
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