"Não quero morrer por Putin". Centenas de detidos contra mobilização

Segundo a organização de defesa dos direitos civis OVD-Info, centenas de pessoas foram detidas por se manifestar contra a medida.

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Daniela Filipe
21/09/2022 18:02 ‧ 21/09/2022 por Daniela Filipe

Mundo

Ucrânia/Rússia

O medo reina na Rússia após o anúncio de mobilização parcial para reforçar o exército daquele país no conflito com a Ucrânia. Acumulam-se os cidadãos detidos na sequência de protestos contra a medida, anunciada esta quarta-feira pelo presidente russo, Vladimir Putin, naquele que foi o seu primeiro discurso à nação, desde o brotar do conflito.

De acordo com o The Guardian, já ocorreram mais de 200 detenções. Contudo, segundo a organização de defesa dos direitos civis OVD-Info, pelo menos 364 pessoas foram detidas por se manifestar contra a medida, número que poderá crescer, tendo em conta a extensão dos protestos no país, que decorrem em cerca de 23 cidades.

Às 19h45 (hora na Rússia), o mesmo meio indicava que 96 pessoas foram detidas em São Petersburgo, enquanto outras 89 em Moscovo, e 45 em Ecaterimburgo.

Em Irkutsk, na Sibéria, pelo menos 10 dos 60 manifestantes que se reuniram numa praça central foram detidos, segundo o The Moscow Times.

Já na terceira maior cidade da Rússia, Novosibirsk, um vídeo publicado nas redes sociais mostra um manifestante a gritar que não quer "morrer por Putin”. Na verdade, multiplicam-se os retratos das manifestações nas redes sociais, acompanhados de detenções.

"Não quero ser carne para canhão", confessou um homem, com cerca de 30 anos, ao The Moscow Times.

Uma mulher, por sua vez, apontou que o seu irmão estava "com medo", e que tinha completado o serviço militar recentemente. "Estamos a tentar comprar-lhe um bilhete de avião com urgência", contou.

“As pessoas vão usar qualquer oportunidade para evitar o recrutamento – algumas podem voltar para a universidade, ou encontrar um emprego em part-time no setor da defesa. Até já pensei em partir o meu próprio braço, para obter uma dispensa médica”, considerou Sergei Krivenko, diretor da associação de direitos humanos Citizen. Army. Law., que fornece aconselhamento aos soldados russos.

Na verdade, Ian Bremmer, cientista político, apontou, esta quarta-feira, que as pesquisas na Rússia sobre 'como partir um braço' aumentaram exponencialmente após o anúncio de uma mobilização parcial naquele país. "Tudo para se livrarem do combate", constatou.

Recorde-se que o ministério público de Moscovo avisou que a participação em tais manifestações ou a mera difusão das respetivas convocatórias poderá constituir crime, depois de terem sido publicados na Internet os primeiros apelos para protestar contra o envio de militares na reserva em idade de combate para a guerra na Ucrânia.

Segundo o ministério público, a convocação dessas manifestações não foi coordenada com as autoridades pertinentes, que devem autorizar qualquer ação desse tipo, uma vez que a Rússia não permite qualquer concentração contrária às diretrizes do Governo.

O decreto de Putin estipulou que o número de pessoas convocadas para o serviço militar ativo seria determinado pelo Ministério da Defesa. Nessa linha, o ministro da Defesa, Sergei Shoigu, disse numa entrevista televisiva que 300 mil reservistas com experiência relevante de combate e serviço serão, inicialmente, mobilizados.

Além da convocação de protestos, a Rússia tem também assistido a um acentuado êxodo de cidadãos, perante o anuncio desta manhã de uma mobilização parcial dos reservistas.

A invasão russa - justificada por Putin com a necessidade de "desnazificar" e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia - foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que tem respondido com envio de armamento para a Ucrânia e imposição à Rússia de sanções políticas e económicas.

A ONU apresentou como confirmados desde o início da guerra, que hoje entrou no seu 210.º dia, 5.916 civis mortos e 8.616 feridos, sublinhando que estes números estão muito aquém dos reais.

[Notícia atualizada às 18h23]

Leia Também: Guerra na Ucrânia foi "escolhida por um homem", acusa Biden

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