Guerra deverá prosseguir durante meses e com muitos riscos associados

A guerra na Ucrânia deverá prosseguir durante meses e os riscos associados ao conflito vão permanecer, com a continuação de elevadas perdas para as duas partes, consideraram, esta quarta-feira, analistas políticos que participaram num debate promovido por um instituto norte-americano.

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© GENYA SAVILOV/AFP via Getty Images

Lusa
28/09/2022 20:09 ‧ 28/09/2022 por Lusa

Mundo

Guerra na Ucrânia

"Não sabemos, mas julgo que a guerra vai continuar, possivelmente um impasse, as perdas vão prosseguir, pesadas perdas para a Ucrânia mas também sérias baixas para a Rússia. Espero que dentro de um ano estejamos preparados para dizer que chega, que tem de terminar", considerou Eugene Rumer, ex-oficial dos serviços de informações para a Rússia e Eurásia no Conselho de Inteligência Nacional (NIC) dos Estados Unidos e diretor do programa Rússia e Eurásia do Carnegie Endowment Endowment for International Peace, que promoveu este debate virtual.

O debate promovido por este instituto norte-americano de pesquisa sobre assuntos internacionais, fundado em 1910 e com sede em Washington, centrou-se numa questão crucial e o tema da iniciativa: "Que futuro para a Ucrânia?". E terminou com uma incómoda pergunta do moderador, Aaraon David Miller, investigador no Carnegie Endowment na área da política externa dos Estados Unidos: "onde estaremos no verão de 2023?".

Neste campo, também manifestaram estreita consonância de posições os restantes dois restantes convidados, Kadri Liik, analista política no Conselho Europeu de Relações Externas, com pesquisas focadas na Rússia, Europa de leste e região do Báltico, e Andrew Weiss, vice-presidente para estudos do Carnegie Endowment, onde pesquisa sobre Rússia e Eurásia.

Admitiu-se que "o que se passa no terreno permanece ainda muito desconhecido", abordou-se a personalidade do Presidente russo Vladimir Putin, "emocional e emotivo", admitiram-se os "muitos riscos que vão surgir".

Numa observação à recente ordem de mobilização parcial decretada pelo líder do Kremlin, Kadri Liik recordou a "apatia" que caracterizava o comportamento da população russa desde o início da invasão militar em 24 de fevereiro, mas denota mudanças.

"A história de sucesso acabou e os russos estão agora questionar-se sobre os objetivos da política externa de Putin, em apoiar a mobilização ou não, em fugir ou combater. E isso torna a opção de Putin muito mais arriscada", disse a analista política.

Uma mudança que poderá não afetar a "elite" no poder em Moscovo.

"A ideia de um país independente e soberano às portas da Rússia é inaceitável para qualquer dirigente do sistema de segurança nacional russo", assinalou por sua vez o ex-oficial dos serviços de informações no NIC.

"Putin falou da presença de mísseis da NATO na Ucrânia, uma perceção de ameaça. E essa recusa [em reconhecer o estatuto independente da Ucrânia] julgo que vai prosseguir quando Putin partir, independentemente do momento em que deixar o poder", prognosticou.

Eugene Rume também considerou que antes do início da guerra "não havia tensão étnica" e que era "inconcebível" a ideia de ucranianos a combater contra russos.

"Mas Putin e o seu círculo consideraram que a Ucrânia não é um verdadeiro país. Na Ucrânia também houve erros, em certo sentido a revolução laranja de 2004 foi desapontante, no caminho da democracia, economia de mercado, transparência", prosseguiu.

"E centraram-se na Ucrânia como um país que era dirigido por oligarcas, que pode ser subornado pelo preço certo, e ignoraram numerosos acontecimentos da história da Ucrânia, e da existência de uma verdadeira identidade e de um verdadeiro nacionalismo ucranianos".

Ainda em torno do anúncio da mobilização parcial, a analista no Conselho Europeu de Relações Externas definiu-a como uma "confusão", e justificou: "Os governadores [das regiões] estão em pânico, os números serão provavelmente mais elevados que os 300.000 anunciados, previamente muitos soldados foram enviados para a frente sem preparação, foram presos e mortos pelos ucranianos. É um enorme crime contra o povo russo e que é chocante".

Mas Kadri Liik também observa o atual contexto como um prenúncio: "Não vejo que a situação na Rússia seja sustentável, de qualquer forma. Os meus instintos dizem-me que vai soçobrar um dia, mas quando acontecerá é muito difícil de dizer porque não vemos ninguém que possa promover um golpe em Moscovo, uma revolução...".

Um cenário que vai impossibilitar, agora segundo Andrew Weiss, o regresso à situação antes de fevereiro de 2022.

"Houve arrogância de Putin, e os ucranianos resistiram, enfrentam uma guerra quase genocida, como sucedeu em Bucha, e não há perspetivas de regresso à situação anterior. E também ter de lidar com os países que estão no meio, entre os situados mais a ocidente e a Rússia, no contexto da NATO", opinou.

O vice-presidente para estudos do Carnegie Endowment também considerou que a Rússia, e os separatistas russófonos do leste ucraniano, não ficarão "embaraçados" com as observações internacionais sobre os referendos de integração desses territórios na Rússia, uma medida há muito preparada e que implicou uma reação do Presidente ucraniano.

"Se [Volodymyr] Zelensky lançou uma ofensiva militar em finais de agosto foi porque receava que isto acontecesse. E agora que os russos concretizaram os referendos, presumivelmente vão tentar garantir mais território ucraniano nos próximos dias. Quando os dados são alterados surge uma nova realidade que infelizmente será desafiada no terreno pelos soldados ucranianos. Prevê-se uma intensificação pelo controlo das novas fronteiras", prognosticou.

Leia Também: Washington anuncia mais 1,13 mil milhões em ajuda militar a Kyiv

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