Segundo a AP, quando o navio de carga Laodicea atracou no Líbano no verão passado, diplomatas ucranianos disseram que o navio estava a transportar cereais roubados pela Rússia e instaram as autoridades libanesas a apreender o navio.
Moscovo afirmou que a alegação era "falsa e infundada" e o procurador-geral do Líbano ficou do lado do Kremlin, declarando que as cerca de 10.000 toneladas de cevada e farinha de trigo não foram roubadas, permitindo que o navio descarregasse.
Entretanto, uma investigação da AP e do programa "Frontline" aponta que o navio sírio Laodicea faz parte de uma sofisticada operação de contrabando russa que tem usado manifestos falsificados e subterfúgios marítimos para roubar cereais ucranianos no valor de pelo menos 530 milhões de dólares (542 milhões de euros) - dinheiro que ajudou a alimentar a máquina de guerra do Presidente russo, Vladimir Putin.
A viagem dos cereais e a farinha transportados pela Laodicea, navio de 138 metros de comprimento, começou provavelmente na cidade de Melitopol, no sul da Ucrânia, que a Rússia ocupou nos primeiros dias da guerra.
O autarca de Melitopol, Ivan Fedorov, disse à AP que os ocupantes estão a transportar grandes quantidades de cereais da região de comboio e caminhão para portos na Rússia e na Crimeia, uma península ucraniana estratégica que a Rússia ocupa desde 2014.
O Kremlin negou ter roubado qualquer cereal, mas a agência de notícias estatal russa Tass informou em 16 de junho que cereais ucranianos estavam a ser transportados para a Crimeia, resultando em longas filas nos postos de fronteira.
A agência Tass informou posteriormente que os cereais de Melitopol tinham chegado à Crimeia e que eram esperados carregamentos adicionais, com destino a clientes no Médio Oriente e na África.
A AP usou imagens de satélite e dados de 'transponders' de rádio marítimo para rastrear três dúzias de navios que fizeram mais de 50 viagens a transportar cereais de áreas ocupadas pela Rússia na Ucrânia para portos na Turquia, Síria, Líbano e outros países.
Os jornalistas que integram esta investigação reviram manifestos de transporte, investigaram mensagens publicadas nas redes sociais e entrevistaram agricultores, transportadores e funcionários para descobrir os pormenores desta alegada operação de contrabando em massa.
Especialistas jurídicos dizem que é um potencial crime de guerra, concretizado por empresários e empresas estatais na Rússia e na Síria, alguns deles já a enfrentar sanções financeiras dos Estados Unidos e da União Europeia (UE).
Esta história faz parte de uma investigação mais completa da AP/Frontline, que inclui um documentário ainda a ser divulgado sobre alegados crimes de guerra russos: "Putin's Attack on Ukraine - Documenting War Crimes" no canal de televisão PBS.
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