O comboio de alta velocidade que Francisco José Garzón Amo conduzia em 24 de julho de 2013 descarrilou numa curva à entrada da cidade de Santiago de Compostela, na Galiza, e embateu numa parede de betão quando seguia a 191 quilómetros por hora (km/h), mais do dobro do limite de 80 km/h para aquele ponto da via.
"Não havia nenhum sinal para restringir a velocidade. Não havia nenhuma limitação, nem nenhum sinal, nem nenhuma baliza. Não havia nada de nada", disse o maquinista, que testemunhou durante uma hora e chorou por diversas vezes.
Segundo afirmou, não havia sinalização para uma redução faseada da velocidade até chegar à curva fatal, onde estava colocado, subitamente, um aviso de 80 km/h.
"Não consegui travar. É praticamente impossível passar naquele ponto de 200 para 80, nesse ponto concreto", afirmou Francisco Garzón Amo, que acrescentou que "é absurdo" alguém pensar que poderia ter reduzido a velocidade naquele momento e garantiu que "evidentemente" a teria diminuído se houvesse sinalização nesse sentido.
Questionado sobre se hoje, com os meios técnicos e sinalização aplicados entretanto naquela via, seria possível ocorrer o mesmo acidente, respondeu que "não, impossível", mas afirmou que esses sistemas não são novos e já existiam há nove anos, só não tinham sido adotados naquela linha ferroviária.
O maquinista, que só respondeu a perguntas do seu advogado, disse ainda que não tinha tido formação na via em que ocorreu o acidente, a via 1 que liga as cidades de Santiago de Compostela a Ourense, ambas na região espanhola da Galiza, mas apenas numa outra, que faz a mesma ligação, conhecida como via 2.
Por outro lado, admitiu ter perdido "a consciência de localização" quando recebeu uma chamada de serviço, que as regras o obrigavam a atender, acreditando estar num túnel anterior àquele em que estava quando o comboio se aproximou da curva do acidente.
O maquinista é um dos dois acusados neste caso, cujo julgamento arrancou formalmente na quarta-feira, com a definição de questões formais de funcionamento, tendo hoje sido iniciadas as audições dos réus.
Além do maquinista, está a ser julgado o responsável, na altura do acidente, pela segurança na circulação da empresa Adif (que geria a infraestrutura), Andrés Cortabitarte, que só deverá ser ouvido pelo tribunal na próxima semana, após o seu advogado de defesa ter pedido um adiamento depois de o réu ter sido agredido por uma vítima do acidente na quarta-feira.
Os dois estão acusados do homicídio de 80 pessoas por imprudência profissional, por 145 lesões pelo mesmo motivo e por um crime de danos.
O Ministério Público pede quatro anos de prisão para cada um dos acusados, a proibição do maquinista exercer a profissão durante o mesmo tempo de condenação e a proibição de Andrés Cortabitarte exercer qualquer profissão que implique gestão, segurança ou responsabilidade deste tipo de infraestruturas.
Em paralelo, o Ministério Público pede mais de 57,8 milhões de euros para reparação de danos e prejuízos.
O julgamento do "caso Alvia", o nome da empresa de comboios que assegurava a ligação, entre Madrid e Santiago de Compostela, vai demorar, previsivelmente, nove meses, por terem sido aceites 522 testemunhas e declarações de cerca de 150 peritos.
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