"Não estou arrependida. Agimos de acordo com o tempo que vivíamos. Nessa altura, era claro que haveria uma alteração de todo o abastecimento energético. Estávamos a abandonar a energia nuclear e queríamos abandonar a energia de carvão. E, para isso, precisávamos do gás russo", justificou a ex-chanceler alemã, numa conferência de imprensa em Lisboa.
Angela Merkel, que liderou o Governo alemão entre 2005 e 2021, foi responsável pelo aumento substancial de aquisição de gás russo, através dos gasodutos Nord Stream 1 e 2, apesar dos alertas do Governo norte-americano sobre os riscos de a Alemanha e a Europa ficarem excessivamente dependente da energia controlada pelo Kremlin.
"Por uma opção constitucional, determinámos que a Alemanha deveria chegar à neutralidade climática em 2040. Para conseguir esse objetivo, era indispensável recorrer ao gás asiático. Não tínhamos outras opções", disse a ex-chanceler na conferência de imprensa.
"Desde a Guerra Fria, a Rússia era um fornecedor confiável de energia", disse Merkel, para justificar a decisão de aumentar a compra de gás através de contratos com Moscovo, embora reconhecendo que a situação atual de relacionamento com o Kremlin é muito diferente.
"Agora, o novo Governo tem de lidar com novas circunstâncias e está a saber lidar com elas", explicou Merkel, referindo-se à atitude do chanceler alemão, Olaf Scholz, de apoiar as sanções europeias contra a energia russa, nomeadamente reduzindo a compra de gás e de petróleo a Moscovo.
A ex-chanceler disse que compreende as preocupações dos países europeus com a invasão russa da Ucrânia, mas acrescentou que esse conflito não pode fazer esquecer outras prioridades governativas, nomeadamente na área ambiental.
"Não podemos perder de vista a necessidade de encontrar soluções sustentáveis para o ambiente, ao mesmo tempo que procuramos soluções para a guerra na Ucrânia", aconselhou a antiga líder alemã.
Merkel deslocou-se a Lisboa para anunciar os vencedores do Prémio Gulbenkian para a Humanidade, atribuído a duas organizações intergovernamentais dedicadas a produzir conhecimento científico e apoiar os decisores políticos no combate às alterações climáticas e à perda de biodiversidade.
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