Pandemia, corrupção e fake news. O debate entre Lula e Bolsonaro
O primeiro debate entre Bolsonaro e Luiz Inácio Lula da Silva, que disputam a segunda volta que definirá o próximo Presidente do Brasil, teve ataques e acusações sobre fake news, corrupção e má gestão da pandemia.
© Lusa
Mundo Brasil/Eleições
No início, o antigo presidente Lula da Silva lembrou que o Brasil registou 11% das mortes provocadas pela covid-19 no mundo, embora possua 3% da população mundial, tentando expor o que considerou uma má gestão da saúde pública por parte do Governo liderado por Bolsonaro.
Lula da Silva chamou ao adversário de "Rei das 'Fake News'" e "Rei da Estupidez" e disse que Bolsonaro "atrasou a vacina", num ato de "negligência [que] causou a morte de 600 mil pessoas, quando mais de metade poderia ter sido salva."
Rebatendo acusações de má gestão e frieza diante do sofrimento dos brasileiros infetados, Bolsonaro disse que "se comoveu a cada morte", que no seu mandato foram compradas "mais de 500 milhões de [doses de] vacinas" e que o Brasil foi "o país que mais vacinou no mundo".
Bolsonaro voltou a desvalorizar as recomendações públicas para o uso de medicamentos sem eficácia comprovada para combater a pandemia, como a cloroquina, alegando um suposto direito dos médicos de receitarem medicamentos "tendo ou não comprovação científica".
O atual presidente alegou que o Partido dos Trabalhadores, de Lula da Silva, teria relação com lideranças de fações do crime organizado do Rio de Janeiro e de São Paulo e falou com ironia de um evento que a campanha dele fez num dos maiores conglomerados de favelas no Rio de Janeiro, o Complexo do Alemão.
"Vocês são amigos de bandidos. Na favela não tinha polícia ao seu lado, só traficantes", disparou Bolsonaro a Lula da Silva, num dos momentos mais tensos do primeiro bloco do debate.
Lula da Silva negociou ligações ao crime organizado, reiterou que foi ao Complexo do Alemão, que ao seu lado só tinha povo trabalhador e prometeu voltar àquela favela do Rio de Janeiro.
O vídeo de uma entrevista em que Bolsonaro fez comentários impróprios sobre uma visita a jovens venezuelanas numa favela, que os apoiantes de Lula da Silva consideraram demonstrar uma associação do Presidente à pedofilia, um assunto que foi muito discutido no final de semana, foi citado pelo próprio Presidente, que defendeu ter sido alvo de notícias falsas e afirmações mentirosas.
Bolsonaro fez questão de mencionar uma decisão do presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Alexandre de Moraes, que mandou a campanha de Lula da Silva retirar um vídeo sobre a polémica.
Lula da Silva disse que Bolsonaro teve que fazer uma transmissão ao vivo, nas redes sociais na madrugada de domingo, para explicar porque mentiu ao associar jovens venezuelanas à prostituição, mas lembrou que ele usou um 'pin' da campanha contra o abuso e exploração sexual de crianças e adolescentes no Brasil.
Tanto Lula da Silva quanto Bolsonaro afirmaram não terem interesse em aumentar o número de juízes do Supremo Tribunal Federal (STF).
Este é um dos temas mais polémicos da eleição brasileira porque apoiantes de Bolsonaro revelaram um projeto de aumentar o número de juízes do STF, ideia que grande parte da opinião pública brasileira considerou uma ameaça e uma tentativa de cooptação do judiciário, como terá ocorrido na Hungria e na Venezuela.
"Já tivemos experiência na ditadura de mudar a Suprema Corte [...] Não é democrático um presidente da República querer ter ministros da Suprema Corte como amigos", disse Lula.
"Da minha parte está feito o compromisso, não terá nenhuma proposta", disse Bolsonaro.
Questionados por jornalistas sobre a relação que pretendem manter com o Congresso, já que ambos responderam por acusações de corrupção e uso de dinheiro público indevidamente em troca de apoio de parlamentares, os candidatos adotaram estratégias diferentes.
O atual Presidente afirmou não ter responsabilidade pelo orçamento secreto, uma prática iniciada em seu Governo que consiste em permitir que parlamentares indiquem, sem dar transparência, onde serão aplicados recursos do Executivo em troca de apoio em votações no Congresso, uma prática que está a ser investigada por suspeita de corrupção.
"Se eu comprar [um deputado], ele vai votar comigo. O orçamento foi criado por [pelo deputado] Rodrigo Maia, queria que isso estivesse nas minhas mãos. Jamais daria dinheiro para essa turma se não estivessem votando comigo", disse Bolsonaro.
Já o antigo presidente Lula da Silva, cujo primeiro Governo foi envolvido no esquema de compra de votos conhecido como Mensalão, ressaltou a importância de lidar com o Congresso eleito pela população brasileira e disse que fará um orçamento participativo.
"É com quem tem mandato que o Governo executivo se relaciona. Vou tentar acabar com o orçamento secreto com um orçamento participativo, mandando para o povo dar opinião, dizendo o que quer efetivamente ver sendo feito", propôs o antigo presidente.
Promovido pela TV Bandeirantes, o jornal Folha de S.Paulo, o portal UOL, e a TV Cultura, o primeiro debate da segunda volta das eleições teve três blocos, com perguntas de jornalistas e dois momentos, de 30 minutos cada, em que os candidatos puderam debater livremente.
Lula e Bolsonaro defrontam-se na segunda volta das eleições presidenciais em 30 de outubro.
A última sondagem, divulgada na sexta-feira, indica que o ex-dirigente sindical Lula da Silva tem uma vantagem de cinco pontos em relação a Bolsonaro.
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