Feira do Livro de Frankfurt abre com apelos pela indústria do livro
A conferência de abertura da Feira do Livro de Frankfurt, que terá lugar entre quarta-feira e domingo, ficou hoje marcada por apelos à proteção da indústria do livro, lançados por responsáveis editoriais e do evento.
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Durante a conferência de imprensa de abertura da 74.ª edição da Feira do Livro de Frankfurt, Juergen Boos, presidente do certame, Karin Schmidt-Friderichs, presidente da Associação Alemã de Editores e Livreiros, e o autor britânico-paquistanês Mohsin Hamid afirmaram que a indústria do livro tem o dever de criar um contrapeso visível às tendências divisórias, antidemocráticas e discriminatórias, e de, unanimemente, as condenar.
De acordo com a informação disponibilizada à imprensa pelo evento, a presidente da Associação Alemã de Editores e Livreiros apelou aos políticos para que protejam a posição da indústria do livro e lembrou que a Feira do Livro de Frankfurt "é o maior mercado mundial de livros e histórias e, simultaneamente, um evento importante para promover a compreensão internacional".
"Num mundo em que surgem fissuras cada vez mais profundas entre perspetivas políticas, culturais e ideológicas, a feira do livro cria espaço para um intercâmbio pacífico e democrático", acrescentou.
Karin Schmidt-Friderichs salientou o interesse dos editores e livreiros, "especialmente nestes tempos incertos", em fornecer uma oferta abrangente de literatura, não-ficção e informação especializada.
"Durante a pandemia, foram bem-sucedidos neste papel - a indústria do livro mostrou-se extraordinariamente resistente nos últimos dois anos, mas ao mesmo tempo, a situação instável a nível global e de mercado apresenta-lhe novos e importantes desafios, pelo que a indústria necessita urgentemente de medidas de apoio dos decisores políticos para poder continuar a cumprir o seu mandato social", sublinhou.
A responsável salientou como o aumento dos custos energéticos, a escassez de recursos e uma notável relutância dos consumidores em comprar estão a colocar os editores, as livrarias e a logística da indústria sob uma pressão considerável.
As livrarias esperam que os custos de energia aumentem até 300%, as editoras, que já tiveram de pagar cerca de 50% mais pela impressão e produção dos seus livros este ano, esperam novos aumentos de 20% a 30% no próximo ano.
Especificamente, a indústria livreira quer ver aplicados rapidamente os subsídios acordados com os editores, que as novas oportunidades de redução do IVA oferecidas pelos ministros das finanças da UE sejam utilizadas, e que os pacotes de ajuda e ajuda financeira às empresas sejam concebidos de modo a que mesmo as editoras e livrarias em crise possam deles beneficiar.
O presidente da Feira do Livro destacou a importância, "mais do que nunca", dos encontros pessoais, na medida em que ajudam a "reduzir a polarização".
Evocando as conversas e discussões a terem lugar nos próximos dias, e o lema que este ano é "Traduzir. Transferir. Transformar", Juergen Boos, mostrou-se convicto de que "a indústria do livro pode proporcionar a compreensão necessária - quer seja através da tradução de literatura de uma língua para outra, demonstrando solidariedade global com os profissionais da indústria do livro no exílio, ou facilitando o trabalho em rede internacional" que ali tem lugar.
A este propósito, o escritor Moshin Hamid revelou que pelo menos metade dos livros que mais lhe interessaram foram escritos em línguas que não conseguiu ler.
"Sem tradutores, eu teria sido metade do leitor que sou. Os meus próprios livros estão traduzidos em muitas línguas que não consigo falar. Sem tradutores, eu seria uma fração do escritor que sou. Mas há mais. Como disse Gabriel Garcia Marquez sobre o tradutor Gregory Rabassa: 'ele escreveu os meus romances melhor do que eu'. Suspeito que muitos de nós escritores, se fôssemos suficientemente fluentes para ler o trabalho dos nossos tradutores, talvez nos encontrássemos a dizer o mesmo", considerou.
O autor de "O fundamentalista relutante" destacou ainda que os tradutores "são profundamente vitais" num "mundo de crescente xenofobia e nativismo, e que "num mundo preocupado com a construção de paredes, os tradutores fazem janelas e portas".
Portugal marca presença este ano na Feira do Livro de Frankfurt, depois de dois anos de ausência devido à pandemia, com 40 chancelas editoriais.
O presidente da Associação Portuguesa de Editores e Livreiros (APEL) espera, por isso, que esta seja "uma feira interessante" do ponto de vista comercial e "uma boa montra para os editores e escritores portugueses".
As chancelas que vão estar na Feira de Frankfurt são a 11x17, Areal Editores, Arte Plural, Assírio & Alvim, Bertrand Editora, Casa Sassetti, Cascais Editora, Chá das Cinco, Contraponto, Desassossego, Edicare Editora, Edições Piaget, Edições Saída de Emergência, Editorial Presença, Etep, FCA, FCA Design, Gestão Plus, IN, Jacarandá, Lidel, Lidel Saúde e Bem-Estar, Livros do Brasil, Lucerna, Manuscrito, Marcador, Pactor, Pactor Kids, Pass, Pergaminho, Porto Editora, Principia, Quetzal, Raíz Editora, Sete Mares, Sextante Editora, Sopa de Letras, Temas e Debates, Verso da Kapa e Zero a Oito.
A Feira do Livro de Frankfurt conta com quatro mil expositores de 95 países, mais de dois mil eventos e quatro mil jornalistas.
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