O texto aprovado pela Rada suprema, o parlamento ucraniano, declara o "reconhecimento da república chechena da Ichkéria como território provisoriamente ocupado pela Federação russa".
Em simultâneo, condena o que qualifica de "genocídio do povo checheno" pela Rússia.
Em particular, são referidos os crimes cometidos durante a primeira (1994-1996) e segunda guerra chechena (1999-2009), a primeira ordenada pelo então Presidente Boris Ieltsin e a segunda iniciada quando o atual chefe de Estado, Vladimir Putin, ainda ocupava o cargo de primeiro-ministro russo.
O documento aprovado também denuncia as "ações criminosas" cometidas pelo império czarista na sua conquista do Cáucaso entre 1817 e 1864, e as deportações massivas ordenadas por Estaline em 1944, por suposta colaboração dos chechenos com o ocupante alemão durante a Segunda Guerra Mundial.
A Rada apela ainda a todos os membros da ONU e às organizações internacionais que garantam uma investigação independente a estes crimes e que os culpados sejam responsabilizados perante a justiça.
Segundo organizações de direitos humanos, as duas guerras da Chechénia provocaram dezenas de milhares de mortos, entre civis e combatentes.
O atual líder checheno, Ramzan Kadyrov, 46 anos, assegurou por diversas ocasiões que a Ichkéria deixou de existir no momento em que a guerrilha separatista anunciou a criação de um califado islâmico.
Kadyrov, que se aliou à Rússia na segunda guerra chechena, sugeriu a utilização de armamento nuclear de baixa potência na Ucrânia, onde combateram unidades chechenas ao lado do Exército russo, com destaque no assalto à cidade portuária de Mariupol e na sequência da invasão militar de 24 de fevereiro.
Combatentes chechenos exilados opositores de Kadyrov também combatem ao lado do Exército ucraniano e acusam o chefe máximo da República da Chechénia, integrada na Federação da Rússia com elevado grau de autonomia, de liderar um regime repressivo com o beneplácito de Putin.
A Rada também se propõe analisar um projeto de reconhecimento da independência da Ichkéria, cujo autoproclamado presidente Aslan Maskhadov foi assassinado em março de 2005 por uma unidade de forças especiais dos serviços de segurança russos (FSB).
O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, tem referido por diversas vezes que a Ichkéria é uma ficção e sem qualquer existência legal.
A ofensiva militar lançada a 24 de fevereiro pela Rússia na Ucrânia causou já a fuga de mais de 13 milhões de pessoas -- mais de seis milhões de deslocados internos e mais de 7,6 milhões para países europeus -, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
A invasão russa -- justificada pelo Presidente russo, Vladimir Putin, com a necessidade de "desnazificar" e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia - foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que tem respondido com envio de armamento para a Ucrânia e imposição à Rússia de sanções políticas e económicas.
A ONU apresentou como confirmados desde o início da guerra 6.306 civis mortos e 9.602 feridos, sublinhando que estes números estão muito aquém dos reais.
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