"Nós somos sempre apologistas de que os recursos humanos devem sempre ganhar bem, os patrões nunca estiveram em desalinhamento de que os recursos humanos, que é o seu maior ativo, possam ganhar bem e ter bom salário", disse aos jornalistas o representante dos empresários do Sotavento cabo-verdiano, que integra as ilhas do Maio, Santiago, Fogo e Brava, à saída de um encontro com o Presidente da República, José Maria Neves.
A reação do presidente da Câmara de Comércio de Sotavento surgiu um dia após o vice-primeiro-ministro cabo-verdiano, Olavo Correia, ter considerado "normal" a saída de trabalhadores do país, mas desafiando as empresas a pagarem melhor para reter os quadros.
Ao ser ouvido pela Comissão Especializada de Finanças e Orçamento (CEFO) da Assembleia Nacional, no âmbito da proposta de lei do Orçamento do Estado para 2023, o também ministro das Finanças respondia a uma pergunta de um deputado que surge numa altura em que se multiplicam ações de recrutamento de empresas portuguesas no arquipélago, em áreas como hotelaria, restauração ou motoristas.
Há milhares de candidatos cabo-verdianos a comparecerem a entrevistas para algumas dezenas de vagas, na sequência da ratificação do acordo de mobilidade na Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) e da alteração da lei de vistos em Portugal.
Para que as empresas cabo-verdianas possam aumentar salários, Marcos Rodrigues disse que é preciso também que o país "inove e renove" a sua capacidade do ponto de vista fiscal e da capacidade contributiva que as empresas têm.
"Para podermos caminhar no mesmo sentido, ou seja, as empresas contribuem, podem pagar mais e têm que ter também condições e ambientes de negócios favoráveis para esse percurso", mostrou o empresário.
Na sua intervenção no parlamento, o vice-primeiro-ministro disse que as empresas em Cabo Verde têm de aumentar a produtividade para poderem remunerar adequadamente os seus colaboradores e reter os melhores.
"Não se pode manter os trabalhadores à custa de um salário baixo e da precariedade a nível salarial. Esta é uma vantagem da mobilidade laboral. As pessoas com uma remuneração condizente nunca vão deixar Cabo Verde para trabalhar noutras paragens", considerou, prevendo um efeito inicial destas saídas, mas que posteriormente vai normalizar.
Considerando que "isso não é mau", disse que o país deve agora aproveitar essa oportunidade para fazer de Cabo Verde um 'hub' de formação, para fornecer mão-de-obra qualificada ao mercado nacional e ao externo.
E neste sentido, recordou um acordo assinado em outubro com Portugal, para reforçar a parceria no âmbito da formação profissional, dando continuidade ao apoio técnico e financeiro ao Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP) de Cabo Verde.
No mesmo mês, os dois governos assinaram, na Praia, um memorando de entendimento sobre mobilidade laboral, em que querem centrar a condução desses processos nos respetivos institutos de emprego para evitar redes, abusos ou exploração em Portugal.
"Acho que esta é uma grande oportunidade para Cabo Verde, e não só", insistiu Correia, lembrando que a Europa está num cenário de diminuição da sua população, enquanto o continente africano tem uma demanda enorme de jovens para o mercado de trabalho.
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