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Presidência egípcia terá de avançar onde COP26 falhou, dizem analistas  

A conferência das Nações Unidas sobre alterações climáticas (COP27), que começa no domingo em Sharm el-Sheikh, no Egito, terá de avançar com processos deixados incompletos pela COP26 no Reino Unido em 2021, afirmaram especialistas britânicos. 

Presidência egípcia terá de avançar onde COP26 falhou, dizem analistas  
Notícias ao Minuto

10:39 - 05/11/22 por Lusa

Mundo COP27

A presidência britânica da COP26, que decorreu em Glasgow, reivindicou no final "sucesso" em manter "vivo" o objetivo de limitar o aquecimento global a 1,5ºC acima dos níveis pré-industriais, mas metas concretas não foram atingidas e a declaração final alargou até ao final deste ano o prazo para o fortalecimento dos planos de redução de emissões, as chamadas "contribuições determinadas nacionalmente" (NDC).

"O que aconteceu na COP26 foi ambicioso, mas não foi suficientemente longe", disse a investigadora do Programa de Ambiente e Sociedade do Instituto Real de Relações Internacionais (Chatham House), Ruth Townsend, que lembrou que "a COP27 não estava agendada para ser um marco importante no processo de Paris" (referência ao acordo de Paris, alcançado em 2015, sobre redução de emissões de gases com efeito de estufa).

A especialista aponta para a discussão em Sharm-el-Sheikh de um programa de trabalho sobre mitigação para "aumentar urgentemente a ambição e implementação", mas mantém algum ceticismo tendo em conta os compromissos feitos até agora.  

Até ao final de setembro, apenas 24 países reviram as respetivas NDC, o que é insuficiente para o objetivo de reduzir as emissões em 45% até 2030 e travar o aquecimento global.  

"Se quisermos manter vivo o objetivo de 1,5º, então é realmente necessário encontrar algo radical com que os países sejam capazes de se comprometer. Caso contrário, começa a duvidar-se da capacidade de cumprir", acrescentou.

Daniel Willis, gestor de campanhas e política da organização não-governamental Justiça Global Agora [Global Justice Now], também hesita em recordar a COP26 como um triunfo. 

"Houve muitos anúncios na COP26 que foram bem planeados pelo Governo britânico e por vários dos países que subscreveram muitas iniciativas. Mas algumas delas desmoronaram-se rapidamente", disse à Lusa. 

Um exemplo foi a promessa da presidência britânica de concretizar o compromisso de os países mais desenvolvidos contribuirem com 100.000 milhões de dólares por ano para ajudar os países em desenvolvimento na transição para energias renováveis e na adaptação aos impactos das alterações climáticas.

O compromisso, inicialmente, previsto para ser atingido em 2020, foi de novo falhado na COP26, tendo o presidente da conferência, Alok Sharma, admitido que só seria alcançado o mais tardar em 2023. 

"Uma esperança é que na COP27 os países possam anunciar que finalmente atingimos os 100.000 milhões de dólares por ano, mas temos quase a certeza de que não o fizeram. Tudo indica que o financiamento climático está estagnado em cerca de 90.000 milhões de dólares por ano", afirmou Willis. 

Como consequência, acrescentou, países como o Paquistão ou Moçambique, onde se têm registado grandes inundações nos últimos anos, continuam sem compensação por perdas e danos devido às alterações climáticas. 

"A Presidência egípcia deixou muito claro que o financiamento de perdas e danos tem de estar no topo da agenda este ano e muitos ativistas e grupos no Sul Global estão a dizer que, se não houver uma espécie de acordo sobre o mecanismo financeiro para perdas e danos este ano, então isso significa que as negociações terão essencialmente fracassado", vincou. 

Segundo Tom Evans, assessor político do centro de estudos E3G, "a COP26 viu governos fazerem muitas promessas, mas o cumprimento parou este ano", pelo que a conferência no Egito poderá dar "um novo ímpeto" à questão do financiamento climático.

"A COP27 é uma das melhores oportunidades até agora para alcançar um acordo inovador sobre financiamento de perdas e danos", afirmou à Lusa, culpando os países desenvolvidos por bloquearem mais avanços nesta matéria. 

Evans antecipa uma maior abertura da presidência egípcia da COP27 a que sejam discutidas e acordadas algumas das prioridades dos países menos desenvolvidos.  

"A perspetiva africana nas negociações, dando prioridade a questões de justiça climática, equidade e necessidade de financiamento para desbloquear transições energéticas justas, ajudará certamente a proporcionar uma pressão construtiva para desbloquear resultados importantes", vincou.

Decisores políticos, especialistas, académicos e organizações não-governamentais reúnem-se entre 06 e 18 de novembro em Sharm el-Sheikh, no Egito na COP27, para tentar travar o aquecimento do planeta.

Líderes como o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, já confirmaram que vão estar presentes, com o Governo português a ser representado pelo primeiro-ministro António Costa.

A COP27, que marca o 30.º aniversário da adoção da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (UNFCCC, na sigla original) mantém os mesmos objetivos de outras cimeiras desde 2015, quando foi assinado o Acordo de Paris, para limitar o aquecimento global a 2ºC (graus celsius), e se possível a 1,5ºC, acima dos valores médios da época pré-industrial.

Leia Também: União Europeia pede "medidas concretas" para limitar aquecimento global

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