Em declarações à Lusa, Osvaldo Mboco, docente na Universidade Técnica de Angola, considerou que Angola tem procurado consenso entre as partes, mas alertou que a mediação de conflitos não depende única e exclusivamente do intermediário, mas "em grande medida dos interesses políticos que os atores primários, neste caso a RDCongo e o Ruanda, têm para ultrapassarem este clima de tensão que se instalou entre os mesmos".
O Presidente angolano, João Lourenço, tem mediado a crise entre os dois países, no âmbito da implementação do Roteiro da Conferência Internacional da Região dos Grandes Lagos (CIRGL) sobre o processo de pacificação da região leste da RDC, adotado em Luanda, o denominado Roteiro de Luanda.
Na opinião de Osvaldo Mboco, o êxito para o Roteiro de Luanda dependerá essencialmente do princípio da boa-fé.
O analista frisou que há várias consequências deste conflito para a região, desde logo com a a possibilidade de haver a transposição do conflito para outros Estados, principalmente nos países que têm fronteiras com os países em conflito, designadamente nas regiões de Kivu e Goma, na RDCongo.
"E a par disto também [pode] existir consequência do ponto de vista de refugiados, e quando existe uma deslocação de refugiados, os Estados em que esses refugiados irão instalar-se deverão levantar campos de refugiados, o que é bastante oneroso para o erário de qualquer Estado", salientou.
Osvaldo Mboco realçou ainda que há igualmente o perigo de os campos de refugiados poderem ser utilizados pelas forças insurgentes para recrutarem novos soldados e também para descansarem sempre que se sentem pressionados pelas forças governamentais.
"E atendendo que esta conflitualidade também tem um condão étnico e temos etnias a nível da região dos Grandes Lagos, que são mesmo de caráter regionais, isso também vai adensando um pouco mais a conflitualidade e aquilo que podem ser as consequências", acrescentou.
Além das consequências políticas, o especialista em relações internacionais apontou consequências do ponto de vista económico, nomeadamente com a inviabilidade da mobilidade humana e a circulação de bens e mercadorias nesta região.
"Põe a região instável e afasta todo e qualquer investidor e estamos a falar de uma das regiões mais ricas do ponto de vista de recursos minerais e naturais a nível do mundo e há vários interesses aí instalados", sustentou.
Para Osvaldo Mboco, as estratégias para a solução deste conflito devem pautar-se naquilo que é o interesse das partes envolvidas, os únicos que podem definir o curso desta solução.
"Porque o roteiro de paz (...) traz pontos estruturantes e não simplesmente do ponto de vista das relações entre os dois Estados, mas também faz aqui uma ligação com o comunicado final de Nairobi [Quénia], que dava conta da retirada do M23 [Movimento 23 de Março] no território da RDCongo e também o fim do financiamento e apoio da FDLR [Forças Democráticas de Libertação de Ruanda], que o Ruanda tem estado a acusar o Congo de dar este apoio", sublinhou.
A RDCongo e o Ruanda acusam-se de apoiar a insurreição militar para desestabilização mútua, com Kinshasa a denunciar guarida e ajuda militar de Kigali ao M23, acusação desmentida pelo Estado ruandês.
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