"Estamos num momento crítico nas negociações. O programa da COP27 prevê que encerre dentro de 24 horas e as partes permanecem divididas numa série de questões importantes. Há claramente uma quebra de confiança entre o Norte e o Sul e entre as economias desenvolvidas e emergentes. Não é hora de apontar o dedo. O 'jogo da culpa' é uma receita para a destruição mútua garantida", começou por dizer Guterres.
Nesse sentido, o secretário-geral lançou um apelo a "todas as partes", para que enfrentem este momento, que classificou como o "maior desafio que a humanidade enfrenta".
"Sabemos o que precisamos de fazer - e temos as ferramentas e os recursos para fazê-lo. (...) Primeiro, a maneira mais eficaz de reconstruir a confiança é encontrar um acordo ambicioso e fiável sobre perdas e danos e apoio financeiro aos países em desenvolvimento", instou Guterres, advogando que o "tempo de falar sobre finanças de perdas e danos acabou".
O ex-primeiro-ministro português lembrou que o mundo não pode continuar a negar justiça climática àqueles que menos contribuíram para essa crise e que acabam por ser os mais prejudicados.
Em segundo lugar, Guterres apelou aos países para abordarem vigorosamente as emissões globais de gases com efeito de estufa.
"A meta de 1,5 [limitar o aumento do aquecimento global em 1,5ºC] não é simplesmente manter uma meta viva -- é manter as pessoas vivas. Vejo a vontade de manter essa meta, mas devemos garantir que esse compromisso seja evidente no resultado da COP27", reforçou.
Em Sharm el-Sheikh, no Egito, onde discursou na conferência da ONU sobre o clima (COP27), Guterres lembrou ainda que a expansão dos combustíveis fósseis está a "sequestrar a humanidade" e instou à aceleração na implantação de energias renováveis.
De forma mais ampla, o mundo precisa de alcançar um "pacto de solidariedade climática", defendeu.
"Um pacto com os países desenvolvidos a assumir a liderança na redução de emissões. E um pacto para mobilizar -- juntamente com as instituições financeiras internacionais e o setor privado -- apoio financeiro e técnico para as economias emergentes acelerarem a sua transição para as energias renováveis", explicou.
Em terceiro lugar, o líder da ONU abordou a questão crucial das finanças, mais concretamente na necessidade de disponibilizar 100 mil milhões de dólares (96,8 mil milhões de euros) em financiamento climático para os países em desenvolvimento.
"Temos soluções acordadas à nossa frente -- para responder a perdas e danos, para fechar a lacuna de emissões e para cumprir o financiamento. O relógio do clima está a contar e a confiança continua a desgastar-se", observou.
"As partes na COP27 têm a oportunidade de fazer a diferença -- aqui e agora. Eu exorto-os a agir... e agir rapidamente", concluiu.
A COP27, a decorrer desde 06 de novembro, reúne decisores políticos, académicos e organizações não-governamentais para tentar travar o aquecimento do planeta, limitando o aquecimento global a 2ºC (graus celsius), e se possível a 1,5ºC, acima dos valores médios da época pré-industrial.
A conferência termina na sexta-feira.
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