"Não tenho aqui as estatísticas, que são confidenciais e produzidas para os membros da Congregação quando nos reunimos em plenário, mas posso dizer que Itália está em quinto ou sexto lugar no mundo para o número de casos", afirmou o secretário da Secção Disciplinar da Congregação para a Doutrina da Fé, monsenhor John Joseph Kennedy, citado pela agência italiana Ansa.
"A Itália está num lugar muito alto", comentou.
A Conferência Episcopal Italiana (CEI) anunciou na quinta-feira ter recebido 89 denúncias de presumíveis abusos sexuais cometidos por 68 pessoas relacionadas com a Igreja em 2020 e 2021.
O relatório, o primeiro sobre os resultados do trabalho dos serviços de proteção de crianças da CEI, refere que 61 das vítimas estavam no grupo etário dos 10 aos 18 anos, 12 tinham menos de 10 anos e 16 eram considerados adultos "vulneráveis".
Nesse trabalho foram identificados 68 alegados abusadores, mais de metade dos quais tinham entre 40 e 60 anos na altura do abuso, 30 deles eram padres, 23 eram leigos da Igreja italiana e 15 eram outras figuras ligadas à Igreja.
Nos últimos 20 anos, segundo o relatório, foram enviados para a Congregação para a Doutrina da Fé cerca de 613 dossiês relativos a casos de abuso.
As vítimas italianas de abusos por parte de membros do clero consideraram que o relatório apresentado na quinta-feira pelos bispos "roça o ridículo" porque se refere apenas a dois anos, 2020 e 2021, e aos casos que chegaram às dioceses.
"Todos os casos envolvendo padres italianos comunicados à magistratura, à nossa associação ou diretamente à Congregação para a Doutrina da Fé estão excluídos do relatório", disse Francesco Zanardi, fundador da associação Rete L'Abuso (Rede Sobre Abusos) e vítima de um padre pedófilo, numa nota informativa.
Já em declarações à Lusa, Francesco Zanardi criticou a postura do Estado italiano nesta matéria, afirmando que este mantém-se "ausente" das investigações a abusos sexuais na Igreja, ao contrário de países como Portugal.
"Estamos zangados com a falta total do Estado neste caso", disse à Lusa Francesco Zanardi, presidente da associação que recolhe denúncias de vítimas.
"Noutros países europeus, entre os quais Portugal, Espanha e França, tem havido uma participação das instituições para fazer luz sobre estes crimes. Em Itália, o Estado nunca quis intervir e o judiciário fá-lo em casos individuais e não de forma estruturada", criticou ainda Zanardi.
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