"Biden sai muito fortalecido destas eleições", disse à Lusa a cientista política luso-americana Daniela Melo. "Ele desafiou todos os padrões. O partido Democrata, e de certa maneira também os Republicanos, desafiaram todos os padrões".
A professora da Universidade de Boston considerou que o desfecho foi inesperado e colocou o Joe Biden numa posição mais sólida. "Apesar de ter sido uma derrota para os Democratas, teve sabor a vitória porque as expectativas eram tão baixas e houve um desempenho acima do normal dos candidatos Democratas".
A média de assentos perdidos nas primeiras intercalares de um presidente é de 28 na Câmara dos Representantes e quatro no Senado, segundo dados compilados pelo The American Presidency Project, da Universidade estadual da Califórnia em Santa Bárbara.
No entanto, o partido Democrata reteve o controlo do Senado e pode ganhar mais um senador, ganhou vários governos e legislaturas estaduais (como Arizona e Pensilvânia) e terá uma perda de 9 a 12 na Câmara dos Representantes, que passará a ser controlada pelos Republicanos.
"Olhando para o número de assentos que outros presidentes perderam nas suas primeiras intercalares, é uma vitória", disse à Lusa o cientista politico Jeffrey Cummins. "Surpreendeu-me que os Republicanos não tenham tido melhor resultado", afirmou. "Mas a maior surpresa foi que a primeira eleição intercalar do Presidente não tenha resultado em perdas mais extensas para o seu partido, dado o facto de que a inflação está tão elevada".
Os resultados ainda não estão totalmente fechados e faltam dados para fazer uma análise completa ao perfil de quem votou, mas segundo o professor isto deveu-se à junção de vários fatores.
"As sondagens subestimaram a intensidade do sentimento quanto à revogação do direito ao aborto [pelo Supremo Tribunal norte-americano]. Isso parece ter levado mais eleitores pró-escolha às urnas", indicou o especialista.
Cummins sublinhou que "está a ficar mais difícil fazer sondagens" porque as pessoas não respondem, o que complica a modelagem das amostras. "Pensámos que o problema estava em subestimar os apoiantes de Trump, e agora é possível que haja um subestimar dos eleitores democratas em vários sítios", referiu.
Outro aspeto importante que dificultou as previsões foi o redesenho dos mapas distritais, resultante do recenseamento de 2020, que reorganizaram a distribuição dos eleitores.
Por outro lado, "o papel que o ex-presidente Trump teve nas eleições também foi um fator, ao apoiar vários candidatos de extrema-direita que não cativaram os eleitores".
O professor da Universidade estadual da Califórnia em Fresno apontou especificamente para os eleitores independentes, que foram importantes nestas intercalares.
"Os independentes não gostaram dos candidatos extremistas que foram a votos", afirmou. "O apelo de Biden à defesa da democracia pode ter persuadido parte deles a votarem em Democratas".
Sinal disso foi o mau desempenho dos candidatos mais extremos apoiados por Donald Trump, que defenderam a ideia falsa de que houve fraude nas eleições de 2020.
"Os candidatos que usaram essa mensagem na campanha não foram bem-sucedidos. Diria que uma boa porção do partido não quer continuar com essa mensagem", analisou Jeffrey Cummins.
Vários extremistas que perderam acabaram por conceder as derrotas, o que está a ser visto como um certo regresso à normalidade democrática depois de dois anos tumultuosos.
"Muitos candidatos extremistas que disseram que houve fraude em 2020 aceitaram a derrota, e isso é bom de ver. Talvez estejamos novamente na direção de resultados eleitorais mais normais, e 2020 tenha sido a exceção", indicou Cummins.
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