O ex-primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, acusou, esta segunda-feira, o presidente russo, Vladimir Putin, de ter invadido a Ucrânia, em fevereiro, para "reconstruir um império russo" e se assumir como "um novo czar".
No seu discurso na CNN Internacional Summit, que decorre em Lisboa, Boris começou por afirmar que a capital portuguesa é a cidade “dos navegadores” e a cidade onde “nasceu a ideia transatlântica”, destacando então a “mais antiga aliança” entre Portugal e o Reino Unido. “A relação está melhor do que nunca”, frisou.
Pedindo “perdão” por “centrar” o seu discurso na temática da guerra na Ucrânia, o ex-governante britânico afirmou que a invasão russa, levada a cabo pelo presidente Vladimir Putin, já “matou mais soldados [russos] do que aqueles que morreram durante os 10 anos da ocupação do Afeganistão”, além de ter provocado milhares de vítimas civis.
"Enquanto a Europa e os Estados Unidos da América entram em recessão, não admira que as pessoas se perguntem se existe uma saída para o conflito, algum acordo de paz", reconheceu, mas pediu que a população continue “do lado da Ucrânia” e a “ajudar durante o tempo que for necessário”.
Boris agradeceu ao primeiro-ministro português, António Costa, pelo “trabalho” desenvolvido no apoio à Ucrânia. “Portugal e o Reino Unido estão juntos nesta luta”, afirmou.
“Queremos que Putin seja derrotado. Os ucranianos podem, devem e vão vencer”, sublinhou. “O povo [ucraniano] anseia pela paz. O presidente [Volodymyr] Zelensky faria, certamente, um acordo de paz, se pudesse. Eu sei isso, mas para o fazer é necessário ter um interlocutor do outro lado e, claramente, Putin não pode ser confiado em nada daquilo que diz”.
O britânico disse ainda que a invasão russa da Ucrânia não está diretamente relacionada com a Ucrânia, mas com a necessidade que Putin tem em “reconstruir um império russo” e de se assumir como um “novo czar”.
“Ele invadiu a Ucrânia porque o faria - no pensamento dele - mais forte. Enviou os seus soldados porque pensou que seriam recebidos com rosas. Pensou que havia uma certa unidade entre a Ucrânia e a Rússia e fê-lo, fundamentalmente, porque não teve ninguém que discordasse dele”, acrescentou.
Boris Johnson considerou que Putin “não tem ninguém que se revolte contra ele”, o que levou ao seu “maior” e “mais catastrófico erro”: invadir a Ucrânia, que é “um país europeu há 31 anos”. “O Putin pensou que os ucranianos deixariam os seus tanques entrar e eles estão a lutar pela sua independência”, destacou.
Sobre um possível acordo, Boris reiterou que Putin “não é de confiança” nos seus “compromissos”. “Como é que podemos confiar num crocodilo que nos está a comer uma perna, mas tem como objetivo devorar todo o nosso corpo?”, atirou.
Volodymyr Zelensky “não conseguiria fazer com que [o acordo] funcionasse” e, por isso, o Ocidente só tem como “opção continuar a apoiar a Ucrânia política, económica e militarmente”, argumentou ainda.
O conflito entre a Ucrânia e a Rússia começou com o objetivo, segundo Vladimir Putin, de "desnazificar" e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia. A operação foi condenada pela generalidade da comunidade internacional.
A ONU confirmou que cerca de seis mil civis morreram e quase dez mil ficaram feridos na guerra, sublinhando que os números reais serão muito superiores e só poderão ser conhecidos quando houver acesso a zonas cercadas ou sob intensos combates.
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