Lavrov salientou que os ataques da Rússia às centrais elétricas ucranianas e outras infraestruturas importantes que deixaram milhões sem energia, aquecimento e água, tiveram como objetivo "enfraquecer o potencial militar" da Ucrânia e "inviabilizar o envio de armas ocidentais".
"Não se pode dizer que os Estados Unidos e a NATO [Organização do Tratado do Atlântico Norte] não estão envolvidos nesta guerra. Estão a participar diretamente nela", disse Lavrov aos jornalistas numa videoconferência de imprensa.
"E não apenas a fornecer armamento, também estão a dar instrução a soldados. Estão a fazê-lo no Reino Unido, Alemanha, Itália e noutros países", acrescentou.
Lavrov sublinhou que a intensificação dos ataques com mísseis russos tem como objetivo "destruir as centrais elétricas", infraestruturas que "permitem que continuem a enviar armas mortais para a Ucrânia para matar russos".
"As infraestruturas visadas pelos ataques são usadas para garantir o potencial de combate das forças armadas ucranianas e dos batalhões nacionalistas", disse Lavrov.
A Ucrânia e o Ocidente têm acusado Moscovo de atacar infraestruturas civis vitais para "reduzir o moral e forçar a Ucrânia a negociações de paz nas condições da Rússia".
Lavrov insistiu que Moscovo continua aberto para negociações sobre o fim do conflito.
"Nunca pedimos conversações, mas sempre dissemos que estamos prontos para ouvir aqueles que estão interessados num acordo negociado", disse Lavrov.
O Kremlin instou a Ucrânia a reconhecer a Crimeia, que Moscovo anexou em 2014, como parte da Rússia e também outros ganhos obtidos desde que enviou tropas para o leste ucraniano, a 24 de fevereiro deste ano, para combater a "militarização" e a "nazificação" da região.
Questionado sobre a possibilidade de uma reunião entre os presidentes da Rússia, Vladimir Putin, e dos Estados Unidos, Joe Biden, o chefe da diplomacia russa respondeu que Moscovo "sempre esteve disponível" para tal, acrescentando, porém, que "ainda não se ouviu nenhuma ideia séria".
Lavrov adiantou que, num contacto telefónico, o homólogo dos Estados Unidos, Antony Blinken, levantou a questão dos cidadãos norte-americanos presos na Rússia, mas observou que Putin e Biden concordaram em estabelecer um canal separado de comunicação para discutir o assunto quando se encontraram em Genebra, em junho de 2021.
"Está a funcionar e espero que sejam alcançados alguns resultados", observou.
A administração de Biden tenta, há vários meses, negociar a libertação da estrela da Liga Norte-americana de basquetebol Brittney Griner e de Paul Whelan, um executivo de segurança corporativa de Michigan, para o que terá sugerido um formato de troca de prisioneiros com Moscovo.
Comentando a decisão da Rússia adiar a ronda de negociações para o controlo de armas nucleares com os Estados Unidos, marcada para a semana que hoje termina, Lavrov argumentou ser "impossível discutir atualmente a estabilidade estratégica se se ignorar tudo o que está a acontecer na Ucrânia".
"O objetivo foi anunciado e é o de derrotar a Rússia no campo de batalha ou mesmo destruir a Rússia. Como pode o objetivo de derrotar a Rússia não ter significado para a estabilidade estratégica, considerando que eles querem destruir um ator-chave da estabilidade estratégica?", respondeu Lavrov.
Na videoconferência de imprensa, de cerca de duas horas e meia, Lavrov criticou ainda os Estados Unidos e respetivos aliados da NATO, acusando-os de "atropelarem o direito internacional ao tentar isolar e destruir a Rússia".
Lavrov concluiu acusando também Washington de estar a encorajar outros países, incluindo a Índia, para porem cobro às relações com a Rússia.
"Essas tentativas falharam", terminou.
A ofensiva militar lançada pela Rússia na Ucrânia causou já a fuga de mais de 13 milhões de pessoas -- mais de seis milhões de deslocados internos e mais de 7,8 milhões para países europeus -, segundo os mais recentes dados da ONU, que classifica a crise de refugiados como a pior na Europa desde a 2.ª Guerra Mundial (1939-1945).
A invasão russa, justificada pelo Presidente Vladimir Putin com a necessidade de "desnazificar" e "desmilitarizar" a Ucrânia para segurança da Rússia, foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que tem respondido com envio de armamento para Kiev e com a imposição de sanções políticas e económicas às autoridades de Moscovo.
Até quarta-feira, a ONU apresentou como confirmados desde o início da guerra 6.655 civis mortos e 10.368 feridos, sublinhando que estes números estão muito aquém dos reais.
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