Nasser Mohamed é considerado o primeiro homem do Qatar a assumir publicamente a sua homossexualidade. Tem 35 anos, é médico e vive em São Francisco, nos EUA, há 11 anos, país que lhe concedeu asilo porque poderia correr risco na sua terra natal.
Em entrevista à Globo, o homem criticou a FIFA, o governo do Qatar e toda a polémica ligada à questão dos direitos humanos que não é respeitada no país, no qual decorre o Mundial 2022.
Defensor da comunidade LGBTQIA+, Mohamed denunciou comportamentos agressivos contra homossexuais no Qatar.
"Vejo que o Qatar está a tentar projetar uma imagem que não existe ao sediar este Mundial, de uma sociedade tolerante, mas nós sabemos que isso não é verdade. Por isso é que eu decidi falar publicamente este ano. É uma ditadura autoritária", denunciou.
Estas e outras denúncias já tinham sido publicadas, em outubro, num relatório do Human Rights Watch. No documento, segundo o jornal brasileiro, entre 2019 e 2022, são relatados seis casos de espancamento e cinco casos de assédio sexual.
"As pessoas só se sentiam confortáveis a falar sob anonimato, sem mostrar o rosto", revela Mahomed, acrescentando como ocorre a perseguição à comunidade LGBT.
"Agentes do governo tentam encontrá-los, entram em aplicações de encontros, espiam as empresas de telefones, investigam dados pessoais e perseguem os cataris que suspeitam ser LGBT. Existe um departamento ligado ao Ministério do Interior que faz isso", afirma.
E o que acontece? Os cataris que se assumem homossexuais, de acordo com Nasser Mohamed, são sequestrados, espancados e, depois, desaparecem.
"Eu vi as feridas, algumas dessas pessoas tinham e mostraram fotos. Têm cicatrizes profundas. Depois da violência, passam a submetê-los à 'terapia da conversão' enquanto estão detidos", conclui.
O catari refere ainda que não pretende voltar ao Qatar, por saber que não é "bem-vindo" e não estaria seguro no seu país.
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