Em 7 de dezembro, o Presidente peruano Pedro Castillo - que venceu as presidenciais de 2021 pelo partido de esquerda marxista Peru Livre com o apoio da população rural e sindicalistas - anunciou a dissolução do Congresso, decretou o recolher obrigatório noturno e a formação de um governo de emergência, que formaria uma Constituinte e faria uma reforma no Judiciário.
O anúncio ocorreu horas antes de o Parlamento peruano debater a sua destituição do cargo de Presidente. Esta foi a terceira tentativa de destituição desde que Castillo, um professor rural de 53 anos, surpreendentemente tomou o poder das mãos da elite política conservadora peruana, em julho de 2021.
O Congresso peruano destituiu o Presidente "por incapacidade moral" com uma ampla maioria dos votos. Castillo foi detido no próprio dia 07 de dezembro e a Justiça peruana decidiu que ficará em prisão preventiva nos próximos 18 meses.
A vice-presidente, Dina Boluarte, foi empossada como a nova Presidente do Peru.
Uma onda de manifestações e confrontos com a polícia varreram o país, nomeadamente nos departamentos de Apurimac e Arequipa, no sul do país, que já resultaram em pelo menos 20 mortos e 340 feridos. Foi declarado estado de emergência de 30 dias e as Forças Armadas foram deslocadas para as ruas para conter os manifestantes.
Nem a promessa da Presidente Dina Boluarte de antecipar as eleições, entre o final de 2023 e 2024, acalmou os manifestantes, que pedem a demissão da chefe de Estado, eleições e uma nova Constituinte, além da libertação de Pedro Castillo.
A instabilidade política no país não é novidade, pois desde 2016 o Peru já conheceu seis Presidentes, na sua maioria destituídos ou que renunciaram após confrontos com os outros poderes do Estado e denúncias de corrupção.
A Operação Lava Jato, investigação das autoridades brasileiras sobre corrupção, acusou quatro Presidentes peruanos de receber subornos da empresa brasileira Odebrecht, nomeadamente o ex-Presidente peruano Alejandro Toledo (2001 e 2006) - que está em liberdade sob fiança nos Estados Unidos enquanto enfrenta um processo de extradição para o Peru - e o ex-Presidente Alan García (2006-2011) cometeu suicídio em 2019 após saber que seria preso.
O antigo Presidente Ollanta Humala (2011-2016) responde a processo judicial também no âmbito das investigações da Lava Jato e Pedro Pablo Kuczynski (2016-2018), que acabou por renunciar ao seu mandato, encontra-se em prisão domiciliária devido a este mesmo caso judicial.
O sucessor e vice-presidente de Kuczynski, Martín Vizcarra(2018-2020), foi também destituído em 2020 acusado num outro caso de corrupção. Vizcarra tentou encerrar o Congresso, mas não obteve apoio popular, que o acusou a tentativa de golpe de Estado.
A Presidência peruana passou para as mãos de Manuel Merino, presidente do Congresso, que renunciou após cinco dias no poder, em novembro de 2020, após violentos protestos da população contra a saída de Vizcarra, que resultaram em dois mortos e dezenas de feridos.
Merino foi substituído pelo novo presidente do Congresso, Francisco Sagasti, que permaneceu interinamente no cargo entre 16 de novembro de 2020 a 28 de julho de 2021.
Já o antigo Presidente Alberto Fujimori (1990-2000), que liderou um golpe de Estado em 1992, atualmente cumpre uma pena de 25 anos de prisão por ser o autor intelectual do assassínio de 25 pessoas por um grupo militar e policial contra o grupo rebelde de esquerda Sendero Luminoso, que tentava tomar o poder pela força. O Peru viveu outros períodos de ditadura, nomeadamente militar, entre os anos de 1960 e 1970.
O Peru também alcançou alguns bons resultados económicos em comparação com outros países da América Latina desde o início dos anos 2000.
Entretanto, este cenário de corrupção endémica na política e noutros setores da sociedade e as disputas pelo poder, que provocam ruturas nos Governos, leva a uma instabilidade social e económica no país, que vive ainda com a questão do narcotráfico e a violência desencadeada por este problema.
Entretanto, a turbulência política cada vez mais ameaça a estabilidade económica, com os atuais protestos e bloqueio nas estradas a poderem prejudicar as grandes minas do segundo maior produtor de cobre do planeta.
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