Irão: Borrell vai manter contactos para repor acordo nuclear de 2015

Os chefes da diplomacia europeia, Josep Borrell, e do Irão, Hossein Amirabdolahian, concordaram hoje em manter contactos regulares para restaurar o acordo nuclear de 2015, numa altura em que as relações entre Bruxelas e Teerão se têm degradado.

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Lusa
20/12/2022 15:21 ‧ 20/12/2022 por Lusa

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À margem de uma visita à Jordânia, onde participa numa série de conferências, o Alto Representante da União Europeia para os Negócios Estrangeiros e o homólogo iraniano reuniram para analisar as novas sanções impostas por Bruxelas a Teerão, impulsionadas pela escalada da repressão interna no Irão, na sequência dos protestos pela morte, em setembro, de Mahsa Amini, uma jovem curda que se encontrava sob custódia policial.

A reunião, em que participaram também os principais negociadores do acordo - o iraniano Ali Baqeri, e o europeu Enrique Mora - teve também como pano de fundo a questão do fornecimento, por parte do Irão, de 'drones' (aparelhos voadores não tripulados) à Rússia, que está a utilizá-los nos ataques contra alvos civis na Ucrânia.

"Realcei a necessidade de [o Irão] parar imediatamente com o apoio militar à Rússia e com a repressão interna", explicou o chefe da diplomacia europeia numa mensagem nas redes sociais.

Segundo Borrell, ambos os responsáveis concordaram em "manter os canais de comunicação abertos e restaurar o acordo nuclear com base nas negociações realizadas em Viena".

Borrell reconheceu que o encontro com o ministro dos Negócios Estrangeiros iraniano foi "necessário" e que ocorre numa altura em que é óbvia a "deterioração" das relações entre a UE e o Irão, após vários meses marcados por divergências e em que os 27 aprovaram quatro pacotes de sanções para responder à onda de repressão no país e ao apoio de Teerão a Moscovo.

Por seu lado, Amirabdolahian pediu aos países europeus que evitem "politizar" o assunto e que adotem posições "realistas e construtivas" para resolver as divergências existentes, ao mesmo tempo que mostra a vontade de Teerão em chegar a um acordo em linha com o esboço apresentado após meses de contactos, segundo a agência de notícias iraniana Tasnim.

O ministro dos Negócios Estrangeiros iraniano enfatizou, no entanto, que as duas partes devem tomar "decisões políticas" para desbloquear a situação. 

Amirabdolahian criticou o "apoio" dos governos ocidentais aos protestos que ocorrem no Irão desde setembro, após a morte sob custódia policial de Mahsa Amini, uma jovem curda detida em Teerão por supostamente usar indevidamente o 'hijab', o véu islâmico, violando o rígido código de vestuário, praticado pelo regime teocrático do ayatollah Ali Khamenei.

Nesse sentido, criticou a adoção de novas sanções sob "o falso pretexto de apoiar os Direitos Humanos da população iraniana", qualificando as declarações de defesa dos direitos da população como "lágrimas de crocodilo".

O ministro sublinhou que o respeito pelos Direitos Humanos é "um pilar fundamental" da Revolução Islâmica de 1989 e reiterou que os países ocidentais "violaram" esses direitos ao apoiar as sanções aplicadas pelos Estados Unidos após o abandono unilateral do acordo nuclear.

No domingo, num comunicado de imprensa, o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros iraniano, Nasser Kanani, assinalou que o Irão não precisa de "permissão" para desenvolver laços com a Rússia, declarações feitas após os Estados Unidos terem manifestado preocupações sobre a "parceria militar em larga escala" entre Teerão e Moscovo.

"A República Islâmica do Irão, de acordo com os seus interesses nacionais (...) age de forma independente para regular as suas relações exteriores e não precisa de permissão de ninguém", disse 

Kiev e os seus apoiantes ocidentais acusam a Rússia de usar 'drones' de fabrico iraniano para realizar ataques na Ucrânia.

O Irão admitiu ter fornecido 'drones' à Rússia, mas garantiu que essas entregas ocorreram antes da ofensiva na Ucrânia.

Em 09 de dezembro, a Casa Branca também alertou para uma "parceria militar em larga escala" cada vez mais profunda entre Teerão e Moscovo.

John Kirby, porta-voz do Conselho de Segurança Nacional do executivo dos Estados Unidos, disse que, em troca das entregas de 'drones', a Rússia estava a "oferecer ao Irão um nível sem precedentes de apoio militar e técnico", um desenvolvimento "prejudicial" para a Ucrânia, para os países vizinhos do Irão e para "a comunidade internacional", segundo Washington.

"A cooperação entre o Irão e a Rússia em vários campos, incluindo a cooperação em defesa, está a desenvolver-se no âmbito de interesses comuns (...) e não é contra nenhum terceiro país", reagiu Nasser.

"As autoridades dos Estados Unidos continuam com as suas posições políticas infundadas e ações ilegais contra a República Islâmica do Irão, questionando a defesa convencional e a cooperação militar entre o Irão e a Rússia", afirmou.

Leia Também: Armas? Sunak pretende "degradar a capacidade da Rússia de se reabastecer"

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