Neste testemunho realizado à porta fechada e tornado público hoje, Hutchinson conta que as figuras próximas do ex-Presidente 'acenaram' com oportunidades de emprego e assistência financeira, enquanto esta cooperava com a comissão que investiga o ataque ocorrido em 06 de janeiro de 2021.
O seu próprio advogado, um ex-conselheiro de ética de Trump, aconselhou-a a não ser totalmente aberta com os congressistas e disse-lhe que "quanto menos se lembrasse, melhor".
A comissão da Câmara dos Representantes divulgou estas duas transcrições inéditas enquanto se prepara para encerrar a sua investigação e tornar o seu trabalho público.
Este comité que será dissolvido quando os republicanos assumirem a câmara baixa do Congresso, em 03 de janeiro, deve divulgar ainda hoje o seu relatório final sobre a investigação.
As transcrições fornecem detalhes anteriormente desconhecidos sobre o que Hutchinson chamou de "luta moral", por estar dividida entre o desejo de falar a verdade e permanecer leal a Trump.
Durante a audiência transmitida na televisão, esta ex-assessora, que se tornou uma das testemunhas-chave, divulgou as exigências iradas de Trump, que foram rejeitadas, como o pedido aos serviços secretos para ser encaminhado rumo à manifestação.
Tal como outros assessores chamados a testemunhar, Hutchinson teve que encontrar um advogado e ex-funcionários da Casa Branca e aliados de Trump trabalharam para providenciar defesa, apesar do seu desconforto por ser representada por alguém do "mundo Trump".
Cassidy Hutchinson acrescentou que foi contactada em fevereiro por Passantino, um ex-conselheiro de ética da Casa Branca, que lhe disse que seria o seu advogado e que esta não teria de pagar nada. Quando questionou sobre a origem do dinheiro, este não respondeu, mas mais tarde soube que era de aliados de Trump.
"Se você quiser saber no final, informaremos", referiu, segundo Cassidy Hutchinson.
Quando a ex-assessora mencionou que ouvir falar de uma explosão de raiva de Trump, pela recusa dos serviços secretos ao seu pedido, Passantino aconselhou-a a não falar disso com o comité.
"Não não não não não. Não queremos ir por aí. Não queremos falar sobre isso", salientou Passantino, segundo a ex-assessora.
Este relatório final da comissão de inquérito da Câmara dos Representantes, esperado hoje encerra um ciclo de investigação que se estendeu ao longo de 18 meses, em que foram ouvidas mais de 1.000 testemunhas, realizadas quase uma dúzia de audiências e recolhidos mais de um milhão de documentos com o intuito de obter um registo mais abrangente da insurreição de 06 de janeiro de 2021.
Na passada segunda-feira, a comissão que investiga o ataque ao Capitólio já havia acusado Donald Trump de vários crimes, incluindo incitamento à insurreição, conspiração para fraude e obstrução de ato do Congresso, encaminhando o processo ao Departamento de Justiça.
Na ocasião foi ainda divulgado um resumo de 154 páginas do relatório final, que detalhava como o ex-presidente Donald Trump ampliou as falsas alegações de fraude eleitoral nas redes sociais e em aparições públicas, encorajando os seus apoiantes a viajar para Washington e protestar contra a vitória do Democrata Joe Biden nas eleições presidenciais de 2020.
A comissão defende que o magnata Republicano conspirou criminalmente para anular a sua derrota nas eleições de 2020 e "provocou os seus seguidores até à violência", o que se refletiu no ataque ao Capitólio de 06 de janeiro de 2021.
Em 06 de janeiro de 2021, convocados por Donald Trump, milhares de norte-americanos dirigiram-se a Washington para protestar contra o resultado da eleição presidencial, que deu a vitória a Joe Biden.
Depois de passarem pela polícia, ferindo muitos agentes, os manifestantes invadiram o Capitólio e interromperam a certificação da vitória de Biden, ecoando as alegações infundadas de Trump sobre fraude eleitoral generalizada e levando os congressistas presentes no edifício a esconderem-se ou a fugirem para protegerem as suas vidas.
Cinco pessoas, agentes e invasores, morreram na sequência da invasão.
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