"De facto, recebemos uma carta das autoridades de transição do Burkina Faso. Este não é um procedimento normal e não temos comentários públicos a fazer", disse o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da França.
A informação já circulava segunda-feira devido a notícias da imprensa francesa, que citavam Ouagadougou como acusando Hallade de "já não ser um interlocutor confiável".
O embaixador Luc Hallade, "ainda está a trabalhar" em Ouagadougou, disse hoje uma fonte diplomática francesa à agência France-Presse.
"A equipa está a fazer um excelente trabalho em condições difíceis", acrescentou a mesma fonte.
Embora as razões para este aumento da tensão entre as autoridades dos dois países não tenham sido esclarecidas, a imprensa francesa relaciona o incidente com comentários feitos pelo embaixador perante o Senado no verão passado, quando afirmou que a violência no Burkina Faso adquiriu contornos endémicos, prenúncio de uma guerra civil.
Segundo o diário francês Le Monde, que cita "várias fontes" não identificadas, o pedido de Ouagadougou está relacionado com uma carta enviada por Luc Hallade a cidadãos franceses em Koudougou em 12 de dezembro.
Nesta carta parcialmente difundida na rede social Twitter, o embaixador convidava os seus compatriotas residentes em Koudougou a deixarem esta cidade, situada 100 quilómetros a oeste de Ouagadougou, e a "relocalizarem-se" na capital ou em Bobo-Dioulasso (sudoeste).
Em dezembro passado, o Ministério dos Negócios Estrangeiros do Burkina Faso expulsou a coordenadora das Nações Unidas para o país, Barbara Manzi, após declará-la 'persona non grata' e sem dar outras explicações.
O Burkina Faso tem sofrido frequentes ataques fundamentalistas islâmicos desde abril de 2015, perpetrados por organizações ligadas à Al-Qaida e a grupo extremista Estado Islâmico e cujas ações afetam 10 das 13 regiões do país, especialmente o norte.
Os fundamentalistas islâmicos controlam atualmente cerca de 40% do território de Burkina Faso.
O país sofreu dois golpes de Estado em 2022: em 24 de janeiro, liderado pelo tenente-coronel Paul-Henri Sandaogo Damiba, e outro em 30 de setembro, pelo capitão Ibrahim Traoré, atual chefe de Estado do país.
A tomada do poder pelos militares ocorreu em ambas as ocasiões na sequência do descontentamento entre a população e o Exército face aos frequentes ataques fundamentalistas, que mantêm mais de 1,8 milhões de pessoas deslocadas, segundo dados governamentais.
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