Cessar-fogo tem como objetivo "prejudicar a reputação da Ucrânia"

Na ótica do Instituto para o Estudo da Guerra, o chefe de Estado poderia também estar a aguardar o momento para "assegurar uma pausa de 36 horas para as tropas russas, para se reorganizarem e reorientarem", de modo a "relançar as operações ofensivas em setores críticos da linha da frente".

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Daniela Filipe
06/01/2023 08:36 ‧ 06/01/2023 por Daniela Filipe

Mundo

Ucrânia/Rússia

O Instituto para o Estudo da Guerra (ISW, na sigla em inglês), considerou, esta sexta-feira, que o cessar-fogo decretado para os dias 6 e 7 de janeiro pelo presidente russo, Vladimir Putin, a propósito do Natal ortodoxo, não passa de uma "operação de informação" que tem como objetivo "prejudicar a reputação da Ucrânia".

"Putin não pode esperar que a Ucrânia cumpra os termos deste cessar-fogo declarado repentinamente, e pode tê-lo pedido para retratar a Ucrânia como inflexível e sem vontade de tomar as medidas necessárias para as negociações", disse a entidade, notando que um “cessar-fogo leva tempo para ser organizado e implementado”.

“O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, disse, a 14 de dezembro, que a Rússia não tinha planos para um cessar-fogo no Natal ortodoxo, razão pela qual o anúncio repentino de Putin a 5 de janeiro foi surpreendente. Afinal, a data do Natal ortodoxo russo em 2023 é conhecida há séculos. Se Putin estivesse seriamente a falar sobre um cessar-fogo com motivação religiosa, teria tempo suficiente para se preparar para isso”, disse ainda o ISW.

O organismo apontou, por isso, que o anúncio “a 24 horas da sua implementação sugere que foi planeado com a intenção de retratar as forças ucranianas que continuam a lutar durante este período como relutantes em trabalhar pela paz, querendo lutar a todo o custo”.

Além disso, as tréguas de 36 horas deverão "beneficiar desproporcionalmente" as tropas russas, "privando a Ucrânia de iniciativa". Isto porque, na ótica do ISW, o chefe de Estado poderia estar a aguardar o momento para “assegurar uma pausa de 36 horas para as tropas russas, para se reorganizarem e reorientarem”, de modo a “relançar as operações ofensivas em setores críticos da linha da frente”.

O instituto recordou ainda os ataques levados a cabo um pouco por toda a Ucrânia em infraestruturas militares e civis, tanto a de 25 de dezembro – dia em que alguns ortodoxos celebram o Natal – e na noite de 31 de dezembro para 1 de janeiro, ecoando as críticas levadas a cabo por Kyiv e pelos aliados do Ocidente.

De notar que, na quinta-feira, o chefe de Estado russo decretou um cessar-fogo de 36 horas entre o meio-dia de 6 de janeiro e a meia-noite de 7 de janeiro, alegadamente para que os cidadãos possam celebrar o Natal ortodoxo. Contudo, tanto Kyiv como os seus aliados consideram que tudo não passa de uma “hipocrisia”.

O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, disse, inclusivamente, que a Rússia pretende “usar o Natal como disfarce para parar, pelo menos temporariamente, o avanço dos combatentes [ucranianos] no Donbass e trazer equipamentos, munições e homens mobilizados para mais perto das [suas] posições".

Lançada a 24 de fevereiro, a ofensiva militar russa na Ucrânia já provocou a fuga de mais de 14 milhões de pessoas, segundo dados os mais recentes da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).

A entidade confirmou ainda que já morreram 6.919 civis desde o início da guerra e 11.075 ficaram feridos, sublinhando, contudo, que estes números estão muito aquém dos reais.

Leia Também: AO MINUTO: Tréguas? "Disfarce" (são discutidas "sob o uivo de mísseis")

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