Matteo Salvini é acusado de "sequestro" de 147 migrantes resgatados a bordo de um navio operado pela ONG espanhola Open Arms, a quem negou o desembarque, como parte da sua política de portos fechados, em agosto de 2019.
O Open Arms passou quase três semanas no mar depois de Salvini se ter recusado a dar-lhe autorização atracar na ilha de Lampedusa.
"Hoje estou em Palermo pela enésima vez, no 'bunker' da prisão de Ucciardone, famosa pelo maior julgamento contra a máfia, para o julgamento de Open Arms", escreveu Salvini no Facebook.
"Arrisco 15 anos de prisão por ter defendido a Itália e as suas fronteiras, salvando vidas e fazendo com que a lei fosse respeitada", disse o líder do partido Liga, de extrema-direita.
O agora vice-primeiro-ministro do Governo chefiado por Giorgia Meloni, líder do Irmãos de Itália, outro partido de extrema-direita, era na altura ministro do Interior no primeiro de dois governos de coligação liderados por Giuseppe Conte.
Conte, agora líder do Movimento 5 Estrelas (M5S), a ex-ministra do Interior Luciana Lamorgese e o ex-ministro dos Negócios Estrangeiros Luigi Di Maio foram chamados como testemunhas na audiência de hoje e deixaram testemunhos de que Salvini agia sem dar conta dos seus atos aos restantes membros do executivo.
Di Maio disse que "tudo o que foi feito naquele período (por Salvini) foi para obter popularidade" e que as decisões relativas à sua política de portos fechados não foram tomadas com o acordo dos restantes membros do governo da altura.
"Na maioria das vezes, soubemos da recusa de Salvini de indicar um porto seguro (a um navio) a partir de relatos dos meios de comunicação social e das suas declarações posteriores", declarou Di maio.
"Nunca houve reuniões de gabinete, nem formais nem informais, sobre a gestão de portos seguros para navios com migrantes. Houve sim reuniões para dar resposta às consequências da recusa do antigo ministro do Interior em atribuir um porto seguro", garantiu.
Também Conte contrariou o seu antigo ministro, dizendo que esta política fazia parte da estratégia de "propaganda" de Salvini, que queria apresentá-lo a ele como "fraco" e a si próprio como "rigoroso". Nesse mesmo mês, o político de extrema-direita quebrou a coligação governamental numa tentativa de avançar com eleições.
Conte referiu em tribunal que, durante o período do impasse, "apelou ao ministro Salvini" para que deixasse os menores a bordo do Open Arms desembarcarem porque na sua opinião "era uma questão que acima de tudo precisava de ser resolvida".
"Tentei exercer a persuasão moral sobre o assunto porque me pareceu que a decisão de os manter a bordo não tinha fundamento jurídico", declarou o então primeiro-ministro.
Também a sucessora de Salvini à frente do Interior, Luciana Lamorgese, recusou a política do seu antecessor e garantiu que "sempre" deu prioridade "ao resgate das pessoas".
No ano passado, Salvini foi ilibado num caso semelhante relativo aos migrantes resgatados que ficaram retidos no navio da guarda costeira de Gregoretti, em julho de 2019.
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