A Direção Regional da Saúde (Diresa) da região de Puno, onde fica Juliaca, divulgou hoje que nove dos feridos permanecem internados no hospital Carlos Monge Medrano, três destes devido "ao impacto de projéteis de arma de fogo".
Ainda segundo a mesma nota, entre os internados está um menor de idade, também com lesões por projéteis de arma de fogo na perna esquerda.
Além disso, uma mulher de 48 anos está ferida na mão direita e um homem de 38 anos na perna direita, em ambos os casos também por projéteis de arma de fogo.
Outro jovem de 19 anos continua internado por envenenamento por gás lacrimogéneo, enquanto as outras cinco pessoas apresentam fraturas, traumatismos e lesões de vários tipos.
O protesto desta quinta-feira em Juliaca começou por volta das 16:00 (21:00 em Lisboa), mas as forças de segurança impediram os manifestantes de chegar às instalações do aeroporto e lançaram bombas de gás lacrimogéneo para dispersá-los.
Desde o início dos protestos no Peru, em dezembro, em várias partes do país os manifestantes tentaram ocupar aeroportos, provocando o encerramento de alguns, como Juliaca, cidade localizada a cerca de 1.300 quilómetros de Lima e a 3.800 metros de altitude.
Esta cidade faz parte de Puno, adjacente à Bolívia, e tem sido o epicentro das mobilizações desde que foram retomadas, após uma trégua no Natal.
As tentativas de tomar o aeroporto naquela região resultaram em 09 de janeiro no dia mais sangrento dos protestos, quando 17 manifestantes morreram em confrontos com a polícia.
Além de Juliaca, esta quinta-feira ocorreram também mobilizações em várias regiões do país, especialmente no sul, em Arequipa, Cuzco e Puno, e bloqueios em 62 estradas que, no total, afetaram 13,8% do território nacional.
Em Lima, onde vive um terço da população peruana, milhares de pessoas compareceram à manifestação convocada pela Confederação Geral dos Trabalhadores do Peru (CGTP), principal sindicato do país, protesto que decorreu sem grandes incidentes, noticiou a agência Efe.
As contestações eclodiram depois da destruição e detenção, em 07 de dezembro, do presidente Pedro Castillo, acusado de ter tentado fazer um golpe de estado, através da dissolução do parlamento, que se preparava para o destituir.
A sua vice-Presidente, Dina Boluarte, substituiu-o, com o objetivo de acabar o mandato presidencial, que se estendia até 2026, embora o Congresso do Peru já tenha antecipado as eleições para abril de 2024.
Os protestos contra o Governo da Presidente Dina Boluarte, cumpriram na terça-feira dois meses, com um balanço de pelo menos 69 mortos.
Dina Boluarte reconheceu hoje sexta-feira que a democracia do país andino é "a mais frágil da América Latina", numa longa conferência de imprensa no Palácio do Governo.
"Estamos a viver numa democracia frágil, sim. A nossa democracia no Peru eu acho que é a mais frágil da América Latina, mas está nos peruanos, cabe a nós fortalecer essa democracia", sublinhou a chefe de Estado.
Os manifestantes exigem a destituição da Presidente, antecipação das eleições para 2023, algo difícil devido ao labirinto parlamentar que tem de atravessar e o encerramento do Congresso.
Esta semana o Parlamento peruano congelou, até agosto, qualquer debate que visa antecipar as eleições até ao final de 2023, o que na prática impede a renovação da Presidência e do órgão legislativo, como exigem os manifestantes.
Invocando um vício de procedimento, a comissão parlamentar da Constituição recusou debater um projeto de lei apresentado pela presidente, Dina Boluarte.
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