No estádio de Nurdagi, uma pequena cidade do distrito de Gaziantep, no sudeste da Turquia, mulheres de todas as idades sentam-se num banco de suplentes, todas de lenço na cabeça.
Esperam por notícias dos seus filhos, irmãos, sobrinhos, netos, cunhados e genros enquanto olham para um prédio de seis andares transformado num monte de pedra, aço, betão, tijolos e poeira.
Há dias, muitos ainda teriam esperança de encontrarem os seus vivos.
Agora, já só querem o corpo, para se despedirem, terem uma campa onde rezar e iniciar o processo de luto.
A realidade vai também tirando quaisquer esperanças que possa haver. As sirenes ainda se ouvem pelas ruas das cidades, mas já não são de ambulâncias - são carrinhas das morgues.
Ahmed e Makbule Çelik estão um pouco mais à frente do banco de suplentes, sentados em cima de pedaços de cartão, sobre o relvado sintético.
Também olham para o mesmo monte de pedras e betão, onde estará a sua filha de 33 anos.
Já foram retirados os corpos do genro e dos dois netos.
Quando a agência Lusa lhes pergunta se têm esperança, a resposta é breve.
"Não temos nenhuma", respondem Ahmed e Makbule, em uníssono, de 60 e 46 anos, respetivamente.
Ahmed completa logo a seguir: "Se tivermos sorte, conseguimos o corpo para o funeral".
"É só esse o meu desejo, nesta altura", conta o homem de 60 anos, que mora em Gaziantep, capital do distrito, mas que passou os últimos sete dias em Nurdagi, à espera.
Cuma, irmão de Ahmed, também é da mesma cidade e também está ali há sete dias.
"A esperança já se foi embora. Não há, não há. Estou só à espera do corpo e de poder identificá-lo", diz à Lusa o homem de 54 anos.
Cuma e o seu irmão passam as noites em colchões e cobertores que são dados pelo estádio e vão-se aquecendo junto a fogueiras improvisadas que surgem em todo o lado, tornando o ar ainda mais pesado, com a mistura de cinzas, poeira e um fumo intenso do lixo que, de vez em quando, faz as vezes da madeira.
Erhan também espera pela sua tia e o marido e filhos desta, num total de seis pessoas, que estarão nos escombros do mesmo prédio.
"Estavam no primeiro andar. A equipa ainda não chegou àquela zona do apartamento", explica o agricultor, que já perdeu esperanças de encontrar a sua tia viva.
"Por estes dias, são sobretudo cadáveres a sair dos escombros. Perdi toda a esperança", desabafa.
Ibrahim Uçar, 49 anos, que já fez o funeral de sete familiares, espera por notícias sobre a mulher do seu irmão, também nos escombros.
Apesar de já se ter despedido de sete familiares seus e do tempo que passou, Ibrahim mantém a esperança de a encontrar viva.
"Há sempre esperança. Eu acredito em Deus e só Deus sabe", resume.
Mas não é só a fé que move Ibrahim.
Uma criança foi resgatada com vida, no domingo, em Nurdagi.
"Se apareceu o miúdo vivo, porque não a mulher do meu irmão? Há sempre uma chance", vinca.
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