Recean é um economista de 48 anos que assumiu funções de assessor de defesa e segurança da atual Presidente moldava, Maia Sandu. A chefe de Estado escolheu Dorin Recean na semana passada para as funções de primeiro-ministro designado, na sequência da inesperada demissão de Natalia Gavrilita.
À exceção de um, que se encontrava ausente, todos os restantes 62 deputados do Partido de Ação e Solidariedade da Moldova votaram a favor do Governo de Recean.
As forças políticas próximas de Moscovo, entre comunistas e socialistas, que detêm 31 dos 101 assentos parlamentares, abstiveram-se, enquanto os restantes seis deputados, eleitos pelo Partido Shor, boicotaram a votação.
O Governo deverá ser empossado ainda hoje, ao final do dia, por Sandu.
Segundo Dorin Recean, a composição do Governo será exatamente a mesma, para que possa manter o foco na "disciplina e ordem" nas instituições da Moldova, dar uma nova vida à economia em dificuldades e garantir a paz e a estabilidade.
Além de se concentrar na integração europeia, disse Recean, o setor de segurança da Moldova "deve ser fortalecido" e a atividade dos que querem trazer a guerra para o país "deve ser drasticamente combatida".
"A Moldova tem vulnerabilidades no contexto da guerra na Ucrânia, pelo que devem ser tratadas com o máximo cuidado", disse Recean, que já desempenhou as funções de ministro do Interior entre 2012 e 2015.
Na segunda-feira, numa conferência de imprensa, Maia Sandu deu conta de uma suposta conspiração de Moscovo para derrubar o Governo moldavo, através do que descreveu como "sabotadores externos" para colocar o país "à disposição da Rússia", inviabilizando, paralelamente, as aspirações de Chisinau de aderir um dia à União Europeia (UE).
Sandu disse que a alegada conspiração russa previa ataques a edifícios públicos e do Governo, a tomada de reféns e outras ações violentas.
Um dia depois, terça-feira, a Rússia rejeitou "veementemente" as alegações, considerando-as "absolutamente infundadas".
Desde que a Rússia invadiu a Ucrânia, a 24 de fevereiro de 2022, a Moldova, que não é membro da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO), tem-se debatido com uma série de problemas, desde uma grave crise energética, pois Moscovo reduziu drasticamente o fornecimento de gás, até a uma forte inflação.
Além disso, a Moldova tem-se queixado por a Rússia fazer passar sobre o pequeno país vários mísseis em direção à Ucrânia, bem como pelo facto de a guerra ter gerado um enorme fluxo de refugiados para o país.
Hoje, as autoridades da Moldova encontraram os restos de mais um míssil no distrito de Briceni, no norte do país e próximo da fronteira com a Ucrânia, projétil que estará relacionado com os ataques russos a território ucraniano.
Segundo reportou a agência noticiosa Moldpres, o Ministério do Interior da Moldova indicou que a área foi rapidamente cercada, enquanto membros dos serviços de emergência e da Direção-Geral da Polícia se deslocaram para o local.
Trata-se da quarta vez desde o início da invasão russa da Ucrânia, a 24 de fevereiro do ano passado, que as autoridades de Chisinau localizaram restos de mísseis no seu território, perto da fronteira com a Ucrânia.
As tensões também têm subido de tom no pequeno país de cerca de 2,6 milhões de habitantes, depois da série de explosões de abril de 2022 na Transnístria, uma região separatista apoiada pela Rússia e onde Moscovo mantém cerca de 1.500 soldados.
Costin Ciobanu, um analista político da Royal Holloway University de Londres, citado pela agência noticiosa Associated Press (AP), disse que a mudança de Governo mostra que "as preocupações com a segurança estão no topo da lista" das autoridades.
Por outro lado, acrescentou o analista, mostra também que Sandu, ao tornar públicas as alegações de conspiração russa, dá "credibilidade à ideia de que a Moldova precisa de se concentrar na segurança" do país.
"A principal narrativa por trás da mudança de Governo foi a de que o Estado tem de se concentrar mais na dimensão da segurança do que no desenvolvimento económico e na crise do custo de vida. Muitas pessoas duvidaram da lógica por trás da mudança", argumentou Ciobanu.
Após o início da guerra, a Moldova procurou estreitar os laços com os parceiros ocidentais. Em junho passado, e no mesmo dia que a Ucrânia, foi-lhe concedido o estatuto de candidato à UE. No entanto, a plena adesão dependerá de uma série de reformas, como o combate à corrupção e o reforço do Estado de direito.
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