Após um ano de guerra, UE mantém unidade numa resposta histórica

Um ano após o início da invasão russa da Ucrânia, a União Europeia (UE) continua a revelar uma unidade nas sanções a Moscovo e no apoio a Kiev que muitos não esperariam, começando pelo Presidente russo, Vladimir Putin.

Notícia

© Reuters

Lusa
21/02/2023 08:19 ‧ 21/02/2023 por Lusa

Mundo

Guerra na Ucrânia

Desde 24 de fevereiro de 2022, o bloco comunitário, tradicionalmente indeciso e pouco harmonioso em matérias de política externa e de segurança, tomou medidas absolutamente históricas, como financiar o fornecimento de armas a um país parceiro.

Aprovou ainda consecutivos pacotes de sanções à Rússia e concedeu estatuto de país candidato à Ucrânia em plena guerra, além de outros apoios de envergadura em ajuda humanitária, acolhimento de refugiados e apoio macrofinanceiro

Apesar de alguns 'choques' entre os Estados-membros, a UE conseguiu impor sanções de uma envergadura sem precedentes ao setor energético russo, do qual o bloco era altamente dependente a nível de importação de combustíveis fósseis, visando o carvão, petróleo e gás russo e privando assim o Kremlin de receitas avultadas.

Para assinalar o primeiro aniversário da invasão, a UE está em vias de adotar um décimo pacote de sanções proposto por Bruxelas, demonstrando que, ao contrário do que muitos anteviam, a unidade dos 27 não foi abalada pela 'fadiga' da guerra, que o Kremlin esperava que desgastasse as opiniões públicas europeias, sobretudo à luz da subida dos preços da energia, comprometendo a tomada de decisões políticas a nível comunitário.

A "guerra de Putin", como é muitas vezes classificada em Bruxelas para responsabilizar o Presidente russo pela agressão militar à Ucrânia, teve o condão de fazer a UE avançar mais em diversas áreas no espaço de alguns meses do que em décadas, sendo provavelmente o setor da Defesa o mais ilustrativo.

Uma semana após o início da invasão russa, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, comentava que a política de Segurança e Defesa da UE tinha evoluído "mais nos últimos seis dias do que nas últimas duas décadas", na sequência da resposta à invasão da Ucrânia pela Rússia.

A 28 de fevereiro de 2022, apenas quatro dias após o início da invasão russa, a UE tinha adotado a inédita decisão de fornecer armas a um país terceiro, ao adotar um pacote de assistência de 450 milhões de euros para financiar a entrega de armas letais, mais 50 milhões em equipamento não letal, ao abrigo do Mecanismo Europeu de Apoio à Paz.

Desde então, a UE adotou mais cinco pacotes de assistência militar, ascendendo a 3,1 mil milhões de euros os recursos já mobilizados ao abrigo do mecanismo, um instrumento extraorçamental criado para reforçar a capacidade da União em prevenir conflitos, consolidar a paz e reforçar a segurança internacional, tendo também lançado, em novembro último, uma missão de assistência militar para as forças armadas ucranianas.

Outra grande mudança que o conflito a leste provocou na UE foi a nível de solidariedade no acolhimento de refugiados.

Ao contrário do que sucedeu, por exemplo, por ocasião da crise migratória provocada pelos conflitos na Líbia e na Síria, desde o primeiro momento a UE mostrou desta vez uma solidariedade exemplar, tendo recebido mais de 7,5 milhões de ucranianos que entraram em território comunitário para fugir à guerra.

A 04 de março, a UE ativou, pela primeira vez na sua história, a diretiva de Proteção Temporária, estatuto ao qual recorreram 4 milhões de ucranianos, e cerca de 500 mil crianças encontram-se atualmente integradas nos sistemas de educação nacionais, incluindo de Portugal.

Absolutamente emblemática do quanto a guerra na Ucrânia fez mudar na União Europeia foi também a decisão dos líderes dos 27, a 23 de junho passado, de conceder o estatuto de país candidato à adesão à Ucrânia, assim como à Moldova, outro país com aspirações europeias que se sente particularmente ameaçado por Vladimir Putin, apenas cerca de quatro meses após os dois países terem apresentado os seus pedidos.

Numa demonstração do compromisso europeu para com as aspirações europeias da Ucrânia, o colégio da Comissão deslocou-se no início do corrente mês a Kiev para uma reunião com o governo ucraniano, na véspera de uma cimeira UE-Ucrânia celebrada também na capital ucraniana, tendo Bruxelas acolhido o Presidente Volodymyr Zelensky a 09 de fevereiro.

Recordando a noite de 24 de fevereiro de 2022, quando o mundo assistiu incrédulo à entrada dos tanques russos em território ucraniano e ao regresso da guerra à Europa, Von der Leyen elogiou na semana passada "a bravura da nação ucraniana" e destacou o apoio dado pela UE a Kiev desde os primeiros instantes do conflito, e que se mantém, passado praticamente um ano.

"Que diferença pode fazer um ano de unidade e determinação. Na madrugada de 24 de fevereiro, quando os tanques russos rolaram para a Ucrânia, todo um continente susteve a respiração. Alguns previam que a Ucrânia iria cair em questão de dias. Mas em vez disso, a bravura lendária do povo ucraniano espantou o mundo", disse.

"Nunca poderemos igualar o sacrifício e a bravura do povo ucraniano. Mas podemos estar firmemente ao seu lado. E foi isso que fizemos. Todo um continente se mobilizou", disse, passando em revista todos os apoios dados pela União à Ucrânia aos mais diversos níveis, e que, no seu conjunto, ascendem já a 67 mil milhões de euros.

Leia Também: Um ano de guerra. UE adotou sanções inéditas para sufocar máquina russa

Partilhe a notícia


Newsletter

Receba os principais destaques todos os dias no seu email.

Mais lidas