A proposta foi divulgada hoje mas tinha sido anunciada no sábado pelo diplomata chinês que tem a pasta dos Negócios Estrangeiros, Wang Yi, durante a Conferência de Segurança de Munique e visa, segundo o responsável, alcançar "uma iniciativa de paz" que acabe com a guerra na Ucrânia cumprindo a Carta das Nações Unidas.
Com este anúncio, a China do Presidente Xi Jinping reiterou a sua intenção de ser neutra na guerra, apesar de continuar a bloquear os esforços das Nações Unidas para condenar a invasão.
O documento, de que a Ucrânia disse não ter conhecimento, ecoa as alegações russas de que os governos ocidentais são os culpados pela invasão de 24 de fevereiro de 2022 e critica as sanções adotadas contra a Rússia.
Na reunião de Munique, o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, expressou ceticismo sobre a posição de Pequim mesmo antes da divulgação do plano, avançando ter informações de que a China está "a considerar fornecer apoio letal" à Rússia, alegação que Pequim considerou ser "uma difamação".
O que é que a China propôs?
A proposta da China pede um cessar-fogo, negociações de paz e o fim das sanções contra a Rússia.
A China atribuiu a responsabilidade pelas sanções a outros "países relevantes" sem os nomear, mas referindo que esses países "devem parar de abusar das sanções unilaterais" e "fazer a sua parte na redução da crise na Ucrânia".
Muitos dos 12 pontos da proposta são muito gerais e não contêm propostas específicas.
Sem mencionar a Rússia ou a Ucrânia, Pequim defende que a soberania de todos os países deve ser mantida, embora não concretize como é que isso funcionaria para a Ucrânia, tendo em conta que a Rússia já anexou várias regiões do país, a começar pela Crimeia, em 2014.
A proposta também condena a "mentalidade de Guerra Fria", um termo usado frequentemente pela China quando se refere aos Estados Unidos ou à aliança militar entre EUA e Europa, a NATO.
"A segurança de uma região não deve ser alcançada pelo fortalecimento ou expansão de blocos militares", diz a proposta.
O Presidente russo, Vladimir Putin, exigiu, antes da invasão, uma promessa de que a Ucrânia não se juntaria à Aliança Atlântica, o que, atualmente, está em processo de negociações.
Outros pontos da proposta chinesa pedem um cessar-fogo, negociações de paz, proteção para prisioneiros de guerra e cessação de ataques a civis, sem dar mais detalhes, além de defender a manutenção da segurança das centrais nucleares e dos acordos para facilitar a exportação de cereais.
"O tom básico e a mensagem fundamental da política são bastante pró-Rússia", considerou o professor de política externa chinesa e segurança internacional da Universidade Tecnológica de Nanyang, em Singapura, Li Mingjiang, citado pela agência norte-americana de notícias AP.
A China apoia a Rússia na guerra na Ucrânia?
A China tem feito declarações contraditórias sobre a sua posição, dizendo que a Rússia foi provocada pela expansão da NATO para leste, mas, ao mesmo tempo, reivindicando neutralidade em relação ao conflito.
Antes do ataque da Rússia, Xi e Putin compareceram à abertura dos Jogos Olímpicos de Inverno do ano passado, em Pequim, e divulgaram uma declaração que determina que os dois países passariam a ter "uma amizade sem limites".
Desde então, a China tem ignorado as críticas ocidentais e reafirmado a sua promessa para com Moscovo.
Putin já disse que espera que Xi visite a Rússia nos próximos meses, mas a China ainda não confirmou a viagem.
A China está "a tentar ter o melhor de dois mundos", afirmou Antony Blinken no domingo, em declarações à televisão NBC.
"Publicamente, apresenta-se como um país a lutar pela paz na Ucrânia, mas no modo privado tem fornecido, nos últimos meses, assistência não letal que serve diretamente para ajudar e encorajar o esforço de guerra da Rússia", apontou.
A China deu apoio à Rússia?
O apoio da China à Rússia tem sido amplamente retórico e político. Pequim ajudou a impedir esforços para condenar Moscovo nas Nações Unidas, mas não há provas públicas de que esteja a fornecer armas a Moscovo, embora os EUA digam que fornece "apoio não letal" e que esse apoio pode estar prestes a aumentar e evoluir.
Durante a Conferência de Segurança de Munique, na semana passada, Blinken disse que os Estados Unidos receiam que a China estejam a fornecer armas à Rússia.
"Temos informações que nos preocupam de que [os chineses] estão a considerar fornecer apoio letal à Rússia", afirmou o secretário de Estados norte-americano, acrescentando ter expressado ao enviado chinês à reunião, o diplomata Wang Yi, que "isso seria um problema sério".
Por sua vez, o secretário-geral da NATO adiantou na quarta-feira que viu alguns sinais de que a China pode estar pronta para fornecer armas e alertou que, a concretizar-se, o país estaria a apoiar uma violação do direito internacional.
As forças russas e chinesas realizaram alguns exercícios conjuntos desde que a invasão começou, a 24 de fevereiro de 2022, o mais recente dos quais com a Marinha sul-africana numa rota na costa sul-africana.
O ministro da Defesa da Ucrânia, Oleksii Reznikov, expressou, no entanto, dúvidas sobre a disposição da China de enviar ajuda letal à Rússia.
"Acho que se a China os ajudar ... não será com armamento. Será com alguns tipos de roupas", disse Reznikov na segunda-feira.
A invasão da Ucrânia pela Rússia, que Moscovo insiste em chamar "ofensiva militar" aconteceu faz hoje um ano e foi justificada, na altura, por Vladimir Putin com a necessidade de "desnazificar" e desmilitarizar o país vizinho.
A ação foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que tem respondido com envio de armamento para a Ucrânia e com a imposição à Rússia, enquanto Estado, mas também às suas empresas e até personalidades privadas, de sanções políticas e económicas.
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