"Se os nossos parceiros mantiverem a palavra e respeitarem os prazos, aguarda-nos uma vitória inevitável (...) mas temos de cumprir os nossos deveres porque nenhum país pode defender-se por si mesmo. Quero verdadeiramente que isso aconteça este ano", disse Zelensky numa conferência de imprensa com 'media' internacionais organizada por ocasião do primeiro aniversário da invasão russa em larga escala, hoje assinalado.
Insistiu ainda que a invasão russa de 24 de fevereiro de 2022 foi o início de um ataque generalizado contra "o direito à vida" após oito anos de conflito circunscrito ao leste da Ucrânia contra as autoproclamadas repúblicas separatistas de Donetsk e Lugansk.
O líder ucraniano também propôs organizar uma cimeira com "países de todos os continentes" após Kyiv ter recebido um apoio generalizado na Assembleia-geral da ONU, que na quinta-feira aprovou uma resolução sobre o fim das hostilidades e a retirada das tropas russas do território ucraniano.
Zelensky disse que essa cimeira deve ocorrer num país "que seja capaz de reunir o maior número possível de países do mundo", um dia depois de 141 Estados representados na ONU terem votado a favor da resolução.
O presidente ucraniano aludiu indiretamente às abstenções registadas durante essa votação, onde se incluem a China e a Índia, e disse que o seu governo trabalha "para transformar essa neutralidade num estatuto de não-neutralidade face à guerra".
Zelensky mencionou especificamente que o executivo de Kyiv está a tentar garantir o apoio ao seu plano de paz -- que prevê um roteiro onde se inclui a retirada das tropas russas da Ucrânia de acordo com a Carta da ONU -- dos países da América Latina e África.
Nesse sentido, o governante disse que a Ucrânia começou a abrir embaixadas nos dois continentes, onde diversos países mantêm boas relações com a Rússia e rejeitaram condenar a guerra.
"A Ucrânia deve promover um passo em frente para se encontrar com os países do continente africano", declarou, referindo igualmente que pretende "organizar uma cimeira entre os países da América Latina e a Ucrânia".
Neste âmbito, fez uma referência particular ao presidente do Brasil, Lula da Silva, manifestando a intenção de reforçar os contactos bilaterais com um país que integra os BRICS, o grupo de economias emergentes que também inclui a Rússia, China, Índia e África do Sul.
O chefe de Estado ucraniano também sublinhou os estreitos contactos com os Países Baixos, Reino Unido, Polónia e os três Estados do Báltico (Estónia, Letónia e Lituânia) para criar mecanismos internacionais que permitam investigar os crimes de guerra de que a Rússia é acusada de ter cometido na Ucrânia.
Apesar de ter manifestado algum ceticismo, Zelensky também se congratulou pelo facto de a China se ter pronunciado sobre a guerra na Ucrânia -- numa referência ao plano de paz apresentado hoje oficialmente por Pequim -- e disse esperar que a posição da liderança chinesa evolua no sentido de exigir à Rússia que respeite os princípios básicos do Direito Internacional, no qual se incluem a soberania e a integridade territorial dos países.
"Pelo menos a China começou a falar connosco, chamou-nos 'país invadido' e julgo que isso está bem. Mas a China não é propriamente pró-ucraniana e temos de ver a que atos se seguem as palavras", afirmou.
"Apenas peço à China que fale connosco", acrescentou.
A ofensiva militar lançada a 24 de fevereiro de 2022 pela Rússia na Ucrânia causou até agora a fuga de mais de 14 milhões de pessoas -- 6,5 milhões de deslocados internos e mais de oito milhões para países europeus --, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
Pelo menos 18 milhões de ucranianos precisam de ajuda humanitária e 9,3 milhões necessitam de ajuda alimentar e alojamento.
A invasão russa - justificada pelo presidente russo, Vladimir Putin, com a necessidade de "desnazificar" e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia - foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que tem respondido com envio de armamento para a Ucrânia e imposição à Rússia de sanções políticas e económicas.
A ONU apresentou como confirmados desde o início da guerra, há exatamente um ano, 8.006 civis mortos e 13.287 feridos, sublinhando que estes números estão muito aquém dos reais.
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