A partir de Bagdade, no Iraque, o líder da Organização das Nações Unidas (ONU) indicou que a escassez de água no país "é agravada pela redução dos fluxos do exterior, gestão insustentável da água e agora, cada vez mais, pelas alterações climáticas".
"É uma ameaça que requer atenção internacional", acrescentou Guterres numa conferência de imprensa conjunta com o primeiro-ministro iraquiano, Mohamed Shia al Sudani.
O ex-primeiro-ministro português recordou que a Mesopotâmia (território histórico que inclui o atual Iraque) significa "a terra entre os rios" e que, nessa região, "a agricultura floresceu pela primeira vez há cerca de 10 mil anos".
"Parte-me o coração ver os agricultores obrigados a abandonar as terras onde cultivam há milénios", lamentou Guterres, sobre a grave seca que o país atravessa e que afeta os seus recursos hídricos e a segurança alimentar.
A seca no Iraque também se agravou nos últimos anos devido ao recorde de baixa pluviosidade e ao aumento das temperaturas, fatores que mostram que "o Iraque é um dos países mais afetados pelas mudanças climáticas", advogou o secretário-geral.
Guterres lembrou ainda que o aquecimento global também "gera deslocações, ameaça a segurança alimentar, destrói meios de subsistência, alimenta conflitos e atenta contra os direitos humanos, em particular das populações mais vulneráveis".
Nesse sentido, afirmou que no final deste mês terá lugar em Nova Iorque a Conferência da Água da ONU, na qual espera a participação do Iraque.
Por seu lado, o primeiro-ministro iraquiano indicou que existem áreas inscritas como Património da Humanidade "ameaçadas pela escassez de água", acrescentando que estas repercussões "coincidem com a política hídrica dos países vizinhos".
No Iraque, a seca arrasta-se há mais de três anos, entre acusações de Bagdad aos países da bacia dos seus dois principais rios, principalmente a Turquia (onde nascem o Eufrates e o Tigre) e o Irão (onde nasce o Karun, um importante afluente do Tigre), de não cumprirem os acordos relativos às quotas de água.
A última visita de Guterres ao Iraque ocorreu há seis anos, pelo que aproveitará a recente deslocação para se reunir com vários funcionários do Governo e reiterar o compromisso da ONU em apoiar o desenvolvimento do país.
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