"O processo e as acusações [contra Ales Bialiatski] têm uma motivação política", declarou a presidente do comité norueguês, Berit Reiss-Andersen, num comunicado.
"O veredicto demonstra que o atual regime recorre a todos os meios para reprimir os seus opositores", afirmou.
Bialiatski, 60 anos, membro destacado do movimento pró-democracia na Bielorrússia, foi acusado pelo tribunal de ter feito entrar no país grandes quantidades de dinheiro e financiado ações coletivas que "atentaram gravemente à ordem pública".
As acusações contra Bialiatski e os seus colegas estavam relacionadas ao fornecimento de dinheiro do centro de defesa dos direitos humanos Viasna a prisioneiros políticos e ajuda nos pagamentos de honorários a advogados.
Dois colaboradores desta organização não-governamental (ONG) de defesa dos direitos humanos também receberam pesadas penas de prisão, para além de um quarto condenado que não compareceu no tribunal.
Os ativistas dos direitos humanos Valentin Stefanovitch e Vladimir Labkovitch foram condenados, respetivamente, a nove e a sete anos de prisão.
Um quarto réu, Dmitri Soloviev, julgado à revelia após fugir para a Polónia, recebeu uma sentença de oito anos de prisão.
Todos foram também multados em 185.000 rublos bielorrussos (69.000 euros).
"A condenação é uma tragédia para Bialiatski pessoalmente", acrescentou Reiss-Andersen.
Em outubro de 2022, Bialiatski recebeu o Nobel da Paz com outras duas organizações de defesa dos direitos humanos, a Memorial (Rússia) e o Centro para as liberdades civis (Ucrânia).
Em Paris, o Ministério dos Negócios Estrangeiros também denunciou a condenação de Bialiatski, ao considerar que "testemunha uma vez mais a repressão política sem precedentes conduzida pelas autoridades bielorrussas contra um movimento de protesto pacífico na sequência de um escrutínio fraudulento da eleição presidencial de 09 de agosto de 2020".
Este escrutínio conduziu à reeleição do atual Presidente bielorrusso, Alexandre Lukashenko, no poder desde 1994, e implicou um vasto movimento de contestação reprimido de forma implacável pelas autoridades.
"A França saúda novamente a coragem e abnegação" dos militantes que defendem os direitos humanos, dos jornalistas independentes, dos opositores e dos simples cidadãos "que lutam por uma Bielorrússia respeitadora dos direitos fundamentais, transparente e democrática", concluiu uma porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros, citada num comunicado.
Os laureados com o Nobel da Paz 2022 obtiveram a distinção pelos seus esforços "pelos direitos humanos, a democracia e a coexistência pacífica nos três países vizinhos Bielorrússia, Rússia e Ucrânia", atualmente protagonistas do conflito mais grave na Europa desde a Segunda Guerra Mundial, desencadeado pela invasão russa do território ucraniano em fevereiro de 2022.
Bialiatski, que já se encontrava detido, foi representado em Olso, na entrega do Nobel, pela sua mulher, Natalia Pintchuk.
A ONU e a União Europeia (UE) também expressaram hoje preocupação com o julgamento de Bialiatski, pedindo a libertação do ativista.
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