A tensão política agravou-se na Grécia na sequência do trágico desastre ferroviário e aumentou a pressão sobre o executivo conservador de Kyriakos Mitsotakis, com o seu círculo mais próximo a defender o adiamento do escrutínio para 14 ou 21 de maio, e com uma eventual segunda volta -- na sequência da nova lei eleitoral aprovada pelo anterior Governo liderado pelo partido de esquerda Syriza -- a decorrer em 02 de julho.
No decurso do seu mandato (2015-1919), o Governo de coligação liderado por Alexis Tsipras anulou uma lei eleitoral resultante de um antigo consenso entre os dois partidos tradicionais da política helénica -- a Nova Democracia (ND, direita) e o Movimento socialista pan-helénico (Pasok, social-democrata) -- que fornecia um bónus de 50 deputados ao partido mais votado (num total de 300 lugares), com o objetivo de garantir maiorias absolutas e uma eventual estabilidade governativa.
Após o regresso da ND ao poder em 2019, esta medida foi de novo recuperada, mas não poderá ser aplicada no próximo escrutínio para o parlamento helénico unicameral (Voulí).
No caso de adiamento, as eleições deverão decorrer no meio da época turística, podendo motivar um significativo impacto na economia, assinalou o 'site' Euractiv.
Neste cenário foi ainda sugerido que as novas datas poderão beneficiar o Governo, pelo facto de a população mais jovem, e muito crítica face ao atual poder conservador em Atenas, estar a trabalhar na estação de verão ou de férias, e menos mobilizada para votar.
De acordo com as recentes sondagens, a juventude grega com idade para votar afastou-se decisivamente do Governo da ND.
Antes do desastre ferroviário de 01 de março, a ND liderava as sondagens. No entanto, o desastre, que vitimou muitos jovens estudantes, foi associado à incúria das autoridades na sequência de um polémico processo de privatização dos caminhos-de-ferro gregos imposto pela "troika" de credores internacionais durante a "crise da dívida" (2009-2018), e alterou a paisagem política interna.
Analistas em Atenas citados pelo 'site' Euractiv consideram que a nova lei eleitoral tornará inevitável a formação de um Governo de coligação, apesar de os principais partidos continuarem a tentar assegurar uma maioria absoluta.
Assim, e nas próximas eleições legislativas, será aplicado o sistema proporcional. Mas no caso de impasse político que implique novo escrutínio, eventualmente no início de julho, um partido ou coligação apenas voltará a necessitar de cerca de 38% dos votos para garantir o poder, como sucedia desde fim da "ditadura dos coronéis" em 1974.
Para quarta-feira está prevista uma greve de 24 horas e novas manifestações em Atenas e outras cidades para exigir justiça após a colisão frontal dos dois comboios na Grécia central, ações de protesto que deverão paralisar grande parte do país.
A greve, convocada pelo sindicato dos funcionários públicos (ADEDI), já garantiu a adesão da Federação marítima grega (PNO), com o encerramento dos portos, dos transportes urbanos, e ainda dos médicos, professores e do setor cultural, para além dos trabalhadores do setor ferroviário, que hoje entraram no sétimo dia consecutivo de paralisação para exigir a modernização da linha férrea do país.
A oposição também tem criticado fortemente a decisão do Governo de permitir que o antigo ministro dos Transportes grego, Kostas Karamalis, se apresente às eleições nas listas da ND.
Até ao momento, Karamanlis foi o único responsável que se demitiu na sequência da tragédia ferroviária.
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