Numa reunião do Conselho de Segurança sobre a situação no Iémen, o enviado especial Hans Grundberg indicou ter testemunhado um renovado ímpeto diplomático regional e uma "mudança radical" na profundidade das discussões para pôr fim ao conflito no país.
"Apesar da situação económica e humanitária desesperante, o Iémen ainda beneficia das conquistas da trégua. (...) Mas precisamos urgentemente de aproveitar o que foi alcançado pela trégua e trabalhar para um cessar-fogo a nível nacional e um acordo político inclusivo para encerrar o conflito", apelou Grundberg perante o corpo diplomático presente na reunião.
"Apelo também a todas as partes para que mantenham um ambiente propício às discussões e que concedam o tempo e o espaço necessários para que as discussões deem frutos. A impaciência nesta conjuntura arrisca o retorno a um ciclo de violência", alertou.
A trégua, que entrou em vigor em abril de 2022, trouxe algum alívio aos iemenitas, especialmente nas áreas controladas pelos rebeldes Huthis, e permitiu retomar o tráfego comercial no aeroporto de Sanaa e no porto marítimo de Hodeida.
O enviado da ONU aproveitou para saudar os esforços recentes do Governo do Iémen para iniciar os preparativos para um processo político através da Comissão de Consulta e Reconciliação e disse estar pronto para trabalhar com todas as partes iemenitas num processo que inclua jovens, sociedade civil e as mulheres.
Também a secretária-geral adjunta para Assuntos Humanitários, Joyce Msuya, reconheceu avanços no Iémen, nomeadamente o declínio no número de pessoas que passam fome no país, "que caiu em quase dois milhões de pessoas".
"Os piores níveis de fome -- IPC5 -- caíram para zero", informou Msuya, sublinhando que esses resultados devem-se, em grande parte, aos esforços incansáveis dos trabalhadores humanitários, ao generoso apoio dos doadores e às próprias tréguas alcançadas.
"Temos razões para comemorar essas importantes melhorias. Mas não devemos alegrar-nos demais, porque o Iémen continua a ser uma emergência impressionante. Este ano, mais de 17 milhões de pessoas contam com as agências para assistência e proteção. E, muitas vezes, as agências não têm o que precisam para ajudar", frisou.
"Nas áreas controladas por Huthis, as trabalhadoras humanitárias iemenitas ainda não podem viajar sem guarda-costas do sexo masculino -- tanto dentro quanto fora do país. Isso está a causar sérias interrupções na capacidade das agências de atender mulheres e meninas com segurança e confiabilidade", denunciou Msuya.
As agências humanitárias também estão preocupadas com o crescente ceticismo em relação às vacinas, particularmente nas áreas controladas pelos Huthis, e com o papel que isso está a desempenhar no aumento das taxas de doenças evitáveis por vacinação, como sarampo e poliomielite, disse Msuya.
Em relação ao subfinanciamento, a secretária-geral adjunta recordou que, há duas semanas, cerca de 30 doadores prometeram 1,16 mil milhões de dólares (1,10 mil milhões de euros) no evento anual de doações para o Iémen, mas salientou que apesar de ser um valor generoso, é também o mais baixo arrecadado desde 2017.
"Sabemos que os fundos dos doadores são escassos e outras crises estão a competir pelo seu apoio. (...) mas precisamos urgentemente do desembolso imediato de todas as promessas. (...) Isso é fundamental para garantir a continuidade de programas essenciais", apelou.
O Iémen vive desde 2014 mergulhado num conflito entre os rebeldes xiitas Huthis, próximos do Irão, e as forças do Governo, apoiadas por uma coligação militar liderada pela Arábia Saudita e que inclui os Emirados Árabes Unidos.
Os Huthis controlam a capital Sanaa e grandes extensões de território no norte e oeste do país.
De acordo com a ONU, a guerra no Iémen já causou centenas de milhares de mortos e milhões de deslocados.
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