Um deputado regional russo que se filmou com fios de esparguete nas orelhas, dando vida a uma expressão conhecida no país por fazer alusão a alguém que mente ou que tenta ‘passar a perna’ aos outros, enquanto assistia à transmissão do discurso proferido pelo presidente russo, Vladimir Putin, a 21 de fevereiro, foi multado em 150 mil rublos (cerca de 1.837 euros) por ter “desacreditado o exército”.
Presente em tribunal esta quinta-feira, Mikhail Abdalkin, representante da região administrativa de Samara, sustentou que pretendia saber como é que o chefe de Estado russo resolveria os problemas de política interna, alegando que, através do seu vídeo, expressou “não só a sua insatisfação, mas também a insatisfação das pessoas que o procuram com os seus problemas”, cita a imprensa local.
A defesa do deputado, que já assegurou que contestará a sentença, argumentou ainda que Abdalkin não fez qualquer referência direta a sujeitos, tanto nas imagens, como na descrição da publicação nas redes sociais, equacionando que não existem provas suficientes para o considerar culpado de desacreditar o exército.
Recorde-se que Abdalkin captou a atenção dos internautas ao publicar um vídeo em que assistia ao discurso do chefe de Estado à câmara baixa do parlamento russo com esparguete nas orelhas, além de uma fotografia do momento, a 21 de fevereiro.
“Ouvi um discurso de duas horas do presidente. Concordo totalmente com tudo, ótimo desempenho. Não ouvia nada assim em 23 anos. Agradavelmente surpreendido”, escreveu, na altura.
No discurso de cerca de duas horas, Putin prometeu que o país sairá vitorioso no conflito com a Ucrânia, ao mesmo tempo que trabalhará para melhorar as condições de vida dos seus cidadãos.
As imagens, - que poderá recordar na galeria acima -, não tardaram a ser alvo de críticas. Numa longa publicação na rede social Telegram, Aleksandr Khinshtein, membro da Duma estatal de Samara, denunciou a conduta de Abdalkin, que considerou ser “estranha, no mínimo, e mais apropriada para um ucraniano, não para um deputado russo”.
O responsável instou, por isso, o Partido Comunista da Rússia a “colocá-lo na ordem, […] a menos, é claro, que as declarações sobre o apoio ao presidente não sejam apenas palavras”.
O porta-voz do partido, Alexander Yushchenko, assegurou que a situação seria investigada, apontando considerar, no entanto, que tudo não terá passado de “um desejo momentâneo de ser popular, de ter uma dúzia de gostos”, aconselhando o deputado "a voltar à vida real", segundo a agência RIA.
Lançada a 24 de fevereiro, a ofensiva militar russa na Ucrânia já provocou a fuga de mais de 14 milhões de pessoas, segundo os dados mais recentes da Organização das Nações Unidas (ONU), que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
A entidade confirmou ainda que já morreram mais de 8.231 civis desde o início da guerra e 13.734 ficaram feridos, sublinhando, contudo, que estes números estão muito aquém dos reais.
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