A decisão foi divulgada após o Governo francês ter recorrido ao artigo 49.3 da Constituição francesa, que prevê que uma lei possa ser aprovada sem passar pela Assembleia Nacional (câmara baixa do parlamento), para aprovar a lei de reforma do sistema de pensões.
Denunciando uma passagem da lei "à força", a intersindical referiu que "mede com seriedade a responsabilidade que o executivo tem na crise social e política que resulta desta decisão, uma verdadeira negação da democracia", destacou em comunicado.
Extrema-direita, direita e toda a ala esquerda da Assembleia Nacional francesa pediram hoje a demissão do Governo, após a aprovação forçada da reforma do sistema de pensões, prometendo apresentar três moções de censura nas próximas 24 horas.
Matematicamente, é muito difícil que uma destas moções seja aprovada, mas, para a oposição, o Governo perdeu a credibilidade.
Fica agora a dúvida sobre o futuro da primeira-ministra, cuja principal missão era negociar esta reforma e assegurar uma maioria. Mesmo que as moções de censura não sejam aprovadas, Elisabeth Borne pode deixar o Governo, abrindo caminho a um novo líder do executivo.
Borne defendeu hoje a decisão de contornar a votação pela Assembleia Nacional da lei de reforma do sistema de pensões, argumentando que a reforma é necessária.
"Não se pode correr o risco de brincar com o futuro das pensões, esta reforma é necessária", disse a primeira-ministra, declarando que foi "por responsabilidade" que o Governo recorreu ao artigo 49.3 da Constituição francesa.
A polícia interveio ao final da tarde de hoje em Paris, não muito longe do Parlamento, na Praça da Concórdia (Place de la Concorde, em francês), onde milhares de manifestantes se reuniram em protesto contra a reforma das pensões, constataram os jornalistas da agência France-Presse (AFP).
Segundo a polícia de Paris, os agentes entraram em ação, nomeadamente com canhões de água, após uma tentativa de destruição do local do Obelisco, no centro da praça.
Estas intervenções policiais causaram grandes movimentações de pessoas na praça.
A intervenção polícia e o uso de gás lacrimogéneo afastaram os manifestantes da ponte que leva à Assembleia Nacional e empurraram estes de volta para o outro lado da praça.
A polícia prendeu pelo menos oito pessoas, adiantou a autarquia.
Boa parte dos manifestantes já tinha deixado o local pelas 19:30 (18:30 em Lisboa), dispersando-se pelas ruas envolventes, referiu AFP.
Entre os artigos mais polémicos desta nova lei está o aumento da idade da reforma para 64 anos ou 43 anos de descontos, mas também o fim dos regimes especiais existentes para os trabalhadores dos transportes, da energia ou mesmo do Banco de França, assim como a adoção de um contrato especial para promover o emprego de pessoas com mais de 60 anos.
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