Universidade no Texas cancela evento drag e compara-o a 'blackface'
O evento procurava angariar dinheiro para o Trevor Project, que trabalha na prevenção contra o suicídio de jovens LGBTI+. O presidente da universidade argumenta que drag é "ridículo".
© Getty Images
Mundo Direitos LGBTI
Uma universidade no estado norte-americano do Texas cancelou na segunda-feira um espetáculo de travestis (ou drag), que tinha sido organizado por alunos, em mais um episódio de regiões conservadoras nos Estados Unidos a impedirem este tipo de atividades mais recorrentes na comunidade queer.
A decisão foi tomada pelo presidente da universidade West Texas A&M, que não só não classificou corretamente o conceito de 'drag', como também comparou a forma de expressão de género a 'blackface' (quando uma pessoa normalmente branca pinta a cara com maquilhagem preta, para se disfarçar de pessoa negra).
"Os espetáculos de drag espalham estereótipos de mulheres como desenhos animados para a diversão de outros e discriminam a feminidade", disse Walter Wendler num e-mail, acrescentando que esta forma de entretenimento é "ridícula, divisiva, misógina, independentemente da intenção".
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— Nate Basil (@collywobbledd) March 21, 2023
No mesmo e-mail, divulgado pela NBC News, o presidente da instituição argumentou que "também não apoia espetáculos com 'blackface' no campus, mesmo que a atuação seja uma forma de liberdade de expressão ou que tencione ser humorística".
O evento cancelado procurava angariar dinheiro para o Trevor Project, uma das maiores organizações não-governamentais de defesa dos direitos de jovens LGBTI+, sendo uma das mais importantes entidades na prevenção de suicídio na comunidade queer (que é, de longe, a comunidade a nível mundial onde o suicídio é mais comum).
Our research shows that having at least one accepting adult can reduce the risk of a suicide attempt among LGBTQ youth by 40%
— The Trevor Project (@TrevorProject) March 22, 2023
Trans youth deserve to know that they are accepted and loved. 🧡
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Os estudantes não gostaram da carta do presidente da universidade e organizaram um protesto repleto de símbolos LGBTI+, na terça-feira, com algumas alunas a afirmarem que "as mulheres também gostam de drag".
Uma petição, pedindo que o espetáculo fosse retomado, já recolheu mais de 6.500 assinaturas até esta manhã, afirmando que a comparação entre 'blackface' (uma expressão de racismo que tem vindo a ser muito criticada) e drag é "nojenta e grotesta".
"É também uma definição extremamente distorcida e incorreta de drag como uma cultura e uma forma de arte", aponta a petição, citada pela NBC News.
Convém recordar que, segundo a ILGA Portugal, num dicionário criado em conjunto com a FOX, o conceito de drag é um "termo associado a uma performance artística de expressão e papéis de género", que "homens que adotem elementos tidos por femininos são drag queens e mulheres que adotem elementos tidos por masculinos são drag kings". "Em Portugal, é usado como sinónimo de travesti/transformista", refere.
Os espetáculos de drag tem sido muito atacados nos últimos meses, especialmente em estados mais conservadores, depois de uma série de ataques por parte de milícias de extrema-direita contra a comunidade queer e, em particular, grupos de leitura e de apoio infantil em escolas que são orientados por 'drag queens'.
Em pelo menos 16 estados norte-americanos, incluindo no Texas, os governos regionais controlados pelo Partido Republicano aprovaram medidas para restringir e quase banir espetáculos de drag, com a maioria das leis a proibir estas atuações à frente de menores de idade.
Enquanto que os legisladores têm defendido que estão a proteger as crianças de formas de entretenimento obscenas, os apoiantes da comunidade LGBTI+ têm reiterado que drag não é necessariamente sexual, estando-se a pintar um retrato nocivo e tóxico relativamente a esta comunidade.
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