Resgatados 31 menores na Crimeia. "Devastador deixar crianças para trás"
Uma organização ucraniana organiza o resgate de crianças dos chamados 'campos de reeducação' russos e devolve os menores aos pais. Dezenas de crianças foram resgatadas no sábado, mas houve alguns percalços no caminho.
© Save Ukraine / Спасемо Україну/ Facebook
Mundo Guerra na Ucrânia
A deportação de crianças ucranianas para a Rússia é uma das grandes preocupações a nível nacional e internacional no âmbito da guerra no Leste europeu.
A organização humanitária Save Ukraine nasceu em 2014, no mesmo ano em que a Rússia anexou a Crimeia, e desde aí tem desenvolvido trabalho no âmbito da solidariedade. Desde 2015, que o seu principal objetivo se prende com os direitos das crianças, o que leva esta organização a ter hoje um papel muito importante no âmbito destas deportações, a mais recente feita no sábado.
"Hoje encontramos em casa mais 31 crianças ucranianas, levadas ilegalmente pelos russos a partir dos territórios ocupados", lê-se no site da organização. Estas dezenas de crianças terão sido levadas para 'campos de reeducação' na Crimeia. Apesar de o regresso das crianças, "que passaram vários meses" afastadas dos pais, ser um final feliz, os responsáveis explicam ainda que nem tudo foi bom. "Infelizmente, a avó de duas das crianças morreu devido ao stress. O coração da mulher não aguentou", explicam.
"O caminho das crianças de território russo é sempre difícil. Situações que não estavam previstas podem surgir a qualquer momento, e as coisas complicam o resgate. Mas, pelo bem das nossas crianças, não nos ficamos pelo caminho", remataram.
Apesar das dificuldades deste resgate, os responsáveis apontam que nenhum esforço é em vão. "Sentimos que não é em vão quando vemos as lágrimas de felicidade nas caras das crianças ucranianas", explicam.
A organização humanitária explica, ainda, que estas crianças foram levadas ao longo dos meses pelo exército russo, que prometiam aos pais "um sítio para as crianças descansarem" e depois levavam-nos para os tais campos. Muitos terão tentado resgatar as crianças sem ajuda, mas, impedidos pelos russos, acabaram por recorrer ao Save Ukraine.
A conferência de imprensa pós-resgate
O fundador da organização, Mykola Kuleba, deu uma conferência de imprensa após o resgate, durante a qual disse que ninguém estava a tentar encontrar os pais das crianças. "Havia crianças que mudaram de localização cinco vezes ao longo de cinco meses, algumas delas disseram que viviam com ratos e baratas", explicou o responsável. Segundo Kuleba, as crianças eram das regiões de Kherson e Kharkiv.
Uma das crianças que foi resgatada foi Dasha Rakk, de 13 anos, que disse que estava num desses campos desde o verão. Foi-lhes 'vendida' uma ideia de campo de férias, mas as coisas mudaram quando chegaram à Crimeia. "Disseram que íamos ser adotadas [ela e a irmã gémea], que nos iriam dar guardiões", explicou a criança, citada pela Reuters.
Já a mãe das crianças, Natalia, explicou que tentou salvar as filhas, tendo passado pela Polónia, Bielorrússia e até Moscovo. "Estávamos numa situação terrível, mas continuámos, não dormimos muitas noites, passámo-las em branco", explicou Natalia, que foi até à Crimeia com a organização buscar a sua filha.
Foi devastador olhar para as crianças que ficavam para trás, a chorar atrás da vedação
Segundo Kyiv, estima-se que cerca de 19 mil crianças tenham sido deportadas desde que o conflito começou, havendo também situações em que estes memores são elevados para os chamados 'campos de reeducação' em território russo, nos quais aprendem a linguagem, assim como são obrigadas a cantar o hino do país, entre outas coisas.
A deportação de menores é um assunto já conhecido da comunidade internacional, inclusive, de Portugal, que foi acusado pelo embaixador russo na Organização das Nações Unidas de, entre outros países, de roubarem crianças ucranianas.
Poucas horas depois as declarações foram repudiadas" firmemente pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros. Portugal reforçou o seu apoio à Ucrânia, referindo, nomeadamente, que ajudava Kyiv no "acolhimento de refugiados".
Questionado pela imprensa nacional, o Ministério Público (MP) esclareceu que em território nacional entraram desde o início da guerra 942 crianças, das quais 27 foram retiradas às famílias. Segundo o MP, nove continuam institucionalizadas.
Veja na galeria acima o momento em que estes jovens se encontram com as famílias.
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