Depois de um tribunal de Moscovo, na Rússia, ter condenado o ativista Vladimir Kara-Murza, esta segunda-feira, a 25 anos de prisão por "alta traição", as reações não tardaram a chegar.
O opositor, de 41 anos, tem dupla nacionalidade - russa e britânica -, não tendo o governo britânico demorado muito tempo a condenar esta sentença, a mais longa atribuída pela justiça russa a um opositor do Kremlin.
Através de um comunicado citado pelo Guardian, o governo do Reino Unido condenou esta sentença que considerou ter "motivações políticas". "A falta de compromisso da Rússia em proteger os direitos humanos, incluindo a liberdade de expressão, é alarmante", afirmou o ministro dos Negócios Estrangeiros britânicos, James Cleverly, reforçando o pedido para que Moscovo comece a cumprir as "suas obrigações" no que diz respeito aos direitos fundamentais.
Já a embaixadora para o Reino Unido na Rússia, Deborah Bronnert, pediu, em declarações aos jornalistas no tribunal em Moscovo, que libertassem o ativista de imediato. A responsável considerou ainda o caso "chocante".
O Ministério dos Negócios Estrangeiros britânico declarou ter convocado hoje o embaixador russo em Londres, Andrei Kelin, para lhe comunicar que a condenação de Kara-Murza - que tem também nacionalidade britânica -- é "contrária às obrigações internacionais da Rússia em matéria de direitos humanos".
Não foram apenas os responsáveis britânicos a reagir, tendo também a líder da oposição da Bielorrússia, Sviatlana Tsikhanouskaya, recorrido às redes sociais para condenar esta detenção, que irá decorrer numa colónia penal, o que implica condições de detenção mais rígidas.
"Condeno a sentença do meu amigo Vladimir Kara-Murza a 25 anos de prisão e peço que ele seja imediatamente libertado. É uma voz da razão corajosa e inteligente [que fala] contra o regime desumano de Putin e a agressão na Ucrânia", escreveu a bielorrussa numa publicação nas redes sociais.
I condemn the sentencing of my friend Vladimir Kara-Murza @vkaramurza to 25 years in prison & call for his immediate release. He is a brave & intelligent voice of reason opposing Putin's inhuman regime & the aggression against 🇺🇦. This sentence is yet another mockery of justice. pic.twitter.com/jW5hoVeLPw
— Sviatlana Tsikhanouskaya (@Tsihanouskaya) April 17, 2023
Já o governo alemão também exigiu a "libertação imediata" de Kara-Murza. "Este julgamento, como muitos outros, destina-se a dissuadir, excluir e prevenir vozes críticas" na Rússia, afirmou a porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da Alemanha, Andrea Sasse, durante uma conferência de imprensa.
Ainda antes de a sentença ser proferida, também a esposa do opositor falou à comunicação social, referindo-se que o tratamento que estava a ser dado ao seu marido era "puro cinismo e vingança". "Eles não querem apenas deter o meu marido. Querem destruí-lo", referiu Evgenia Kara-Murza em entrevista ao Sunday Times, publicada no domingo.
A mulher falou ainda sobre o estado de saúde do marido, que sofre de polineuropatia, uma doença que afeta o sistema nervoso periférico - consequência de dois envenenamentos alegadamente levados a cabo pelo Kremlin.
"Ao ritmo que estes sintomas se estão a espalhar, ele não tem mais 25 anos", defendeu, acrescentando: "Acho que ele não tem nem mais cinco".
A ofensiva militar lançada em 24 de fevereiro de 2022 pela Rússia na Ucrânia causou até agora a fuga de mais de 14,6 milhões de pessoas - 6,5 milhões de deslocados internos e mais de 8,1 milhões para países europeus -, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
Neste momento, pelo menos 18 milhões de ucranianos precisam de ajuda humanitária e 9,3 milhões necessitam de ajuda alimentar e alojamento.
A invasão russa - justificada pelo presidente Vladimir Putin com a necessidade de "desnazificar" e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia - foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que tem respondido com envio de armamento para a Ucrânia e imposição à Rússia de sanções políticas e económicas.
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