"Acompanhamos com grande preocupação os últimos acontecimentos em Tunes, sobretudo com a detenção [segunda-feira à noite] de Rached Ghannouchi e com a notícia do encerramento da sede do partido Ennahdha", indicou, num comunicado, uma porta-voz do alto representante da UE para os Negócios Estrangeiros, Josep Borrell.
"[A detenção] soma-se a uma série de prisões em curso de atores políticos de diferentes grupos da oposição", acrescentou a porta-voz.
"Aguardando informações oficiais sobre os motivos desta prisão, lembramos a importância de respeitar os direitos da defesa e o direito a um julgamento justo", enfatizou a porta-voz de Borrell.
Da mesma forma, a porta-voz insistiu no "princípio fundamental do pluralismo político".
"Estes elementos são essenciais para qualquer democracia e constituem a base da parceria da União Europeia com a Tunísia", concluiu.
Vários membros do Ennahdha, que governou direta e indiretamente a Tunísia na última década e foi a principal força parlamentar durante o último mandato, foram detidos ou investigados desde que o Presidente tunisino, Kais Saied, assumiu plenos poderes em julho de 2021, após o que suspendeu o Parlamento.
Mais de uma dezena de militantes do partido está em prisão preventiva por supostos crimes de corrupção e de conspiração, enquanto outros, como Ghannouchi, têm processos abertos e têm sido regularmente chamados à Justiça.
Ghannouchi, 81 anos, que foi entretanto hospitalizado após a detenção, é o opositor de maior destaque a ser preso desde o golpe constitucional perpetrado por Saied.
A detenção ocorreu após a imprensa tunisina ter publicado declarações de Ghannouchi proferidas no fim de semana passado, em que afirmou que a Tunísia será ameaçada por uma "guerra civil" se o Islão político, de onde o partido é originário, fosse eliminado.
Segundo um responsável da Frente de Salvação Nacional (FSN, coligação da oposição), dois outros líderes do Ennahdha, Mohamed Goumani e Belgacem Hassan, também foram presos na noite de segunda-feira.
Kais Saied, acusado pela oposição de uma deriva autoritária, qualificou os detidos como "terroristas", alegando que estavam envolvidos numa "conspiração contra a segurança do Estado".
Depois do golpe que intensificou o seu poder, Saied precedeu à revisão da Constituição para estabelecer um sistema ultrapresidencialista às custas do parlamento, que deixou de ter poderes reais, e dissolveu as duas câmaras parlamentares (Assembleia e o Senado), controladas pelo Ennahdha.
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