"A realidade de todo o país não é só a daqueles que fazem barulho com panelas ou que reclamam", declarou Macron à imprensa, à chegada, ao início da tarde, à aldeia de Mutterscholtz, no leste do país.
"Ver-me-ão sempre com a população, não tenho o direito de parar", acrescentou o chefe de Estado francês, numa empresa especializada em construções de madeira, à qual se deslocou sem passar perto dos manifestantes munidos de tachos e panelas que o esperavam.
Macron, cuja popularidade sofreu danos com a sua decisão de fazer aprovar a revisão da lei das aposentações recorrendo a um mecanismo previsto na Constituição francesa que dispensa a votação do diploma no parlamento, por não dispor de maioria na Assembleia Nacional, quer retomar o contacto direto com a população, após três meses de contestação nacional.
Além da sua visita desta manhã à Alsácia -- onde foi também recebido por manifestantes hostis -, tem agendada uma deslocação na quinta-feira ao sudeste de França.
Ao final da manhã de hoje, os guardas nacionais tinham dispersado cerca de uma centena de manifestantes concentrados no centro da aldeia e munidos de tachos e panelas, megafones e buzinas. Houve manifestantes que se deitaram no chão antes de serem levados pelas forças da ordem.
"A manifestação está feita, o apelo para se manifestarem era pacífico (...) Quando um Presidente tem medo do seu povo a este ponto [é preciso] que se interrogue sobre a sua verdadeira legitimidade", sustentou Bertrand Blindauer, da central sindical Confederação Geral do Trabalho (CGT).
Os sindicatos contrários à revisão da lei das pensões -- que aumentou de 62 para 64 anos a idade de aposentação sem penalizações financeiras -- tinham instado na terça-feira a população a protestar ruidosamente contra a presença do chefe de Estado.
Alguns manifestantes empunhavam cartazes onde se lia "Jupi, põe-te a andar", numa alusão à alcunha de "Júpiter" dada ao Presidente devido à sua conceção vertical do poder, ou ainda "Os teus 100 dias não contam connosco", em referência aos 100 dias que Macron concedeu na segunda-feira a si mesmo para apaziguar o país e iniciar novos projetos de reformas.
Na terça-feira à noite, uma deslocação privada do Presidente a Saint-Denis, perto de Paris, tinha já atraído cerca de 300 manifestantes.
Vários membros do Governo e da equipa presidencial incitaram, contudo, Emmanuel Macron a reconquistar os franceses no terreno.
"É importante" que ele realize deslocações dentro do país, disse um elemento do seu círculo próximo, o ministro dos Transportes, Clément Beaune, saudando o facto de Macron "poder estar no terreno" para "ouvir também algumas dessas reivindicações".
Desde a apresentação do projeto de revisão da lei das aposentações, em janeiro, Macron mantivera-se quase sempre no palácio do Eliseu, sede da Presidência da República, efetuando poucas deslocações pelo país.
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